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CRÍTICA DRAMA
Sfar faz retrato cartunesco e bem-humorado de Gainsbourg
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
A linguagem cartunesca e
a homenagem ao cinema
fantástico fazem com que
"Gainsbourg" escape de ser
enquadrado como uma cinebiografia tradicional.
De cara, porque temos um
onipresente boneco orelhudo (como o próprio Gainsbourg), que surge quando o
protagonista tem de tomar
decisões.
É ele quem aconselha o
cantor a deixar a pintura e a
dedicar-se só à música, além
de empurrá-lo aos excessos.
Para construir o simpático
monstro, o diretor Joann Sfar
teve apoio da equipe de Guillermo del Toro (de "O Labirinto do Fauno").
O cineasta mexicano,
aliás, é apontado por Sfar como importante influência, ao
lado dos americanos Terry
Gilliam e Tim Burton.
Mas é na elaboração do
universo de Gainsbourg que
Sfar abusa dos instrumentos
das histórias em quadrinhos
e da caricatura.
Tudo é exagerado. O cigarro, a bebida, a sensualidade,
o retrato de ícones da época
(Brigitte Bardot e Juliette Gréco, entre outros) e seu gestual blasé ao compor e ao
cantar.
Nesse ambiente, vemos a
história de Gainsbourg se desenrolar seguindo uma cronologia fiel aos fatos.
Há um problema, porém.
Muitos acontecimentos da vida do artista ficam apenas na
sugestão, ou são deliberadamente mal contados.
O fã de Gainsbourg completará a trama sozinho, mas
quem o conhece pouco pode
perder-se.
Um exemplo é o episódio
em que o cantor apresenta
seu maior hit ("Je T'Aime...
Moi Non Plus") ao dono da
gravadora. Este faz caretas
indicando estar chocado,
mas todo o escândalo causado pelo hino sexual é tratado
de modo superficial.
Na verdade, a própria música de Gainsbourg é deixada
um pouco de lado. Mais uma
vez, cabe aos aficionados localizar as fases da carreira do
cantor, e apenas as mais significativas, como a gravação
da polêmica versão reggae
da "Marselhesa", na Jamaica, são bem reconstruídas.
As apostas de Sfar, porém,
se mostram acertadas.
"Gainsbourg" é um retrato
bem-humorado e criativo
que deixaria o próprio, um
vaidoso por excelência, feliz.
GAINSBOURG, VIE HÉROÏQUE (Gainsbourg, vida
heróica)
AVALIAÇÃO ótimo
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