São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Sfar faz retrato cartunesco e bem-humorado de Gainsbourg

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

A linguagem cartunesca e a homenagem ao cinema fantástico fazem com que "Gainsbourg" escape de ser enquadrado como uma cinebiografia tradicional.
De cara, porque temos um onipresente boneco orelhudo (como o próprio Gainsbourg), que surge quando o protagonista tem de tomar decisões.
É ele quem aconselha o cantor a deixar a pintura e a dedicar-se só à música, além de empurrá-lo aos excessos.
Para construir o simpático monstro, o diretor Joann Sfar teve apoio da equipe de Guillermo del Toro (de "O Labirinto do Fauno"). O cineasta mexicano, aliás, é apontado por Sfar como importante influência, ao lado dos americanos Terry Gilliam e Tim Burton.
Mas é na elaboração do universo de Gainsbourg que Sfar abusa dos instrumentos das histórias em quadrinhos e da caricatura.
Tudo é exagerado. O cigarro, a bebida, a sensualidade, o retrato de ícones da época (Brigitte Bardot e Juliette Gréco, entre outros) e seu gestual blasé ao compor e ao cantar.
Nesse ambiente, vemos a história de Gainsbourg se desenrolar seguindo uma cronologia fiel aos fatos. Há um problema, porém. Muitos acontecimentos da vida do artista ficam apenas na sugestão, ou são deliberadamente mal contados. O fã de Gainsbourg completará a trama sozinho, mas quem o conhece pouco pode perder-se.
Um exemplo é o episódio em que o cantor apresenta seu maior hit ("Je T'Aime... Moi Non Plus") ao dono da gravadora. Este faz caretas indicando estar chocado, mas todo o escândalo causado pelo hino sexual é tratado de modo superficial.
Na verdade, a própria música de Gainsbourg é deixada um pouco de lado. Mais uma vez, cabe aos aficionados localizar as fases da carreira do cantor, e apenas as mais significativas, como a gravação da polêmica versão reggae da "Marselhesa", na Jamaica, são bem reconstruídas. As apostas de Sfar, porém, se mostram acertadas.
"Gainsbourg" é um retrato bem-humorado e criativo que deixaria o próprio, um vaidoso por excelência, feliz.

GAINSBOURG, VIE HÉROÏQUE (Gainsbourg, vida heróica)
AVALIAÇÃO ótimo


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