|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Atriz encena no Rio "A Visita da Velha Senhora", do sueco Friedrich Dürrenmatt, peça que evitou na década de 60
Tônia comemora 80 anos com clássico
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
No colar, as estrelas graúdas ajuntadas são tão transparentes quanto Maria Antonieta Portocarrero o é com Tônia Carrero, alcunha da atriz acolhida no início da carreira, 52 anos atrás, por sugestão de uma amiga.
A consciência do mito da beleza já a levou a contrapô-lo, por
exemplo, frequentando um dos "muquifos" de Plínio Marcos em
"Navalha na Carne" (67), na pele
de uma prostituta.
Aos 80 anos, completados em
23 de agosto passado, prepara-se
para outro deslocamento vertiginoso: a vingativa Clara Zachanassian do clássico "A Visita da Velha
Senhora", do sueco Friedrich
Dürrenmatt, já visitado por Cacilda Becker (teatro) e Ingrid Bergman (cinema). A direção foi entregue a Moacyr Góes.
Na próxima quarta-feira, Tônia
estréia no Conjunto Cultural da
Caixa, no Rio, um espetáculo que
acredita estar à altura das efemérides teatrais deste 2002 (Paulo Autran e Bibi Ferreira também completaram 80 anos).
A começar pelo elenco. Chamou amigos como Cláudio Corrêa e Castro, 74, Nelson Dantas,
74, com outras dezenas de décadas de histórias nos palcos.
O dinheiro e a sede por vingança são o moto-contínuo da trama.
"A Visita da Velha Senhora" se
passa na Alemanha pós-guerra,
final dos anos 50. Clara (Tônia)
retorna à cidade natal de onde foi
expulsa há 30 anos por Schill
(Castro), homem que a engravidou e a quem amava tanto.
Em sua trajetória errante, a moça frequentou bordel e se casou
oito vezes, uma delas com um
magnata que morreu e lhe deixou
uma herança milionária. No retorno triunfal, Clara encontra a cidade em ruínas e oferece uma fortuna para quem matar Schill.
Tônia afirma que o sentimento
de vingança, ao contrário de Clara, não ecoa em si. Ela soma três
casamentos: com o desenhista e
cineasta Carlos Arthur Thiré, pai
de seu filho, Cecil; com o diretor
italiano Adolfo Celi; e com o engenheiro César Thedim. "Não vinguei homem algum que me traísse. Me separei de três maridos assim, todos por traição", diz.
"A Visita da Velha Senhora" é
um sonho na carreira. Nos anos
60, Celi queria montar a peça, mas
Tônia se esquivou. Tinha cerca de
30 anos à época. "Faltava-me a sabedoria da personagem. O papel é
para uma mulher de 60 anos. Eu
agora tenho 80 anos e aparento só
menos 20 tranquilamente", diz.
Apesar da tônica teatral na carreira, ela se ressente da pouca
oportunidade que teve no cinema
e na televisão. "Não me deram o
valor que eu tenho."
Para tocar seu novo projeto
(cerca de R$ 1 milhão), Tônia
aproveitou visita ao Palácio do
Planalto e "apelou" para Fernando Henrique Cardoso: "Olha, este
ano faço 80 anos de idade e 52 de
trabalhos na cultura nacional. Tenho netos, bisnetos, sou mulher
vivida e responsável. Preciso fazer
essa peça". O presidente despachou em bilhete para o seu secretário, como descreve Tônia: "Resolva sem salamaleques. Ela vale
mais do que pediu". Não deu outra. Um corolário de estatais patrocinam a montagem.
A VISITA DA VELHA SENHORA. De: Friedrich Dürrenmatt. Tradução: Cecil
Thiré. Direção: Moacyr Góes. Com: Tônia Carrero, Fábio Sabag, Leon Góes, Paulo
Vespúcio e outros. Onde: Conjunto Cultural da Caixa - teatro Nelson
Rodrigues (av. Chile, 230, centro, tel. 0/xx/21/2262-0942). Quando: estréia dia
25, qua., às 21h; qua. a sáb., às 19h30; dom., às 18h. Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sáb. e dom.) Até 1º/12. Patrocinadores: BR Distribuidora, Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica Federal e Correios
Texto Anterior: Documentário: Cultura faz retrato poético de atleta Próximo Texto: Frases Índice
|