São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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TEATRO

Atriz encena no Rio "A Visita da Velha Senhora", do sueco Friedrich Dürrenmatt, peça que evitou na década de 60

Tônia comemora 80 anos com clássico

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No colar, as estrelas graúdas ajuntadas são tão transparentes quanto Maria Antonieta Portocarrero o é com Tônia Carrero, alcunha da atriz acolhida no início da carreira, 52 anos atrás, por sugestão de uma amiga.
A consciência do mito da beleza já a levou a contrapô-lo, por exemplo, frequentando um dos "muquifos" de Plínio Marcos em "Navalha na Carne" (67), na pele de uma prostituta.
Aos 80 anos, completados em 23 de agosto passado, prepara-se para outro deslocamento vertiginoso: a vingativa Clara Zachanassian do clássico "A Visita da Velha Senhora", do sueco Friedrich Dürrenmatt, já visitado por Cacilda Becker (teatro) e Ingrid Bergman (cinema). A direção foi entregue a Moacyr Góes.
Na próxima quarta-feira, Tônia estréia no Conjunto Cultural da Caixa, no Rio, um espetáculo que acredita estar à altura das efemérides teatrais deste 2002 (Paulo Autran e Bibi Ferreira também completaram 80 anos).
A começar pelo elenco. Chamou amigos como Cláudio Corrêa e Castro, 74, Nelson Dantas, 74, com outras dezenas de décadas de histórias nos palcos.
O dinheiro e a sede por vingança são o moto-contínuo da trama. "A Visita da Velha Senhora" se passa na Alemanha pós-guerra, final dos anos 50. Clara (Tônia) retorna à cidade natal de onde foi expulsa há 30 anos por Schill (Castro), homem que a engravidou e a quem amava tanto.
Em sua trajetória errante, a moça frequentou bordel e se casou oito vezes, uma delas com um magnata que morreu e lhe deixou uma herança milionária. No retorno triunfal, Clara encontra a cidade em ruínas e oferece uma fortuna para quem matar Schill.
Tônia afirma que o sentimento de vingança, ao contrário de Clara, não ecoa em si. Ela soma três casamentos: com o desenhista e cineasta Carlos Arthur Thiré, pai de seu filho, Cecil; com o diretor italiano Adolfo Celi; e com o engenheiro César Thedim. "Não vinguei homem algum que me traísse. Me separei de três maridos assim, todos por traição", diz.
"A Visita da Velha Senhora" é um sonho na carreira. Nos anos 60, Celi queria montar a peça, mas Tônia se esquivou. Tinha cerca de 30 anos à época. "Faltava-me a sabedoria da personagem. O papel é para uma mulher de 60 anos. Eu agora tenho 80 anos e aparento só menos 20 tranquilamente", diz.
Apesar da tônica teatral na carreira, ela se ressente da pouca oportunidade que teve no cinema e na televisão. "Não me deram o valor que eu tenho."
Para tocar seu novo projeto (cerca de R$ 1 milhão), Tônia aproveitou visita ao Palácio do Planalto e "apelou" para Fernando Henrique Cardoso: "Olha, este ano faço 80 anos de idade e 52 de trabalhos na cultura nacional. Tenho netos, bisnetos, sou mulher vivida e responsável. Preciso fazer essa peça". O presidente despachou em bilhete para o seu secretário, como descreve Tônia: "Resolva sem salamaleques. Ela vale mais do que pediu". Não deu outra. Um corolário de estatais patrocinam a montagem.


A VISITA DA VELHA SENHORA. De: Friedrich Dürrenmatt. Tradução: Cecil Thiré. Direção: Moacyr Góes. Com: Tônia Carrero, Fábio Sabag, Leon Góes, Paulo Vespúcio e outros. Onde: Conjunto Cultural da Caixa - teatro Nelson Rodrigues (av. Chile, 230, centro, tel. 0/xx/21/2262-0942). Quando: estréia dia 25, qua., às 21h; qua. a sáb., às 19h30; dom., às 18h. Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sáb. e dom.) Até 1º/12. Patrocinadores: BR Distribuidora, Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica Federal e Correios


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