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DEBATE
Filósofo, poeta e compositor diz no seminário "O Silêncio dos Intelectuais" que não vai haver mais progresso artístico
Antonio Cicero afirma que a vanguarda já acabou
DA SUCURSAL DO RIO
Despido da condição de poeta e
compositor, Antonio Cicero participou do seminário "O Silêncio
dos Intelectuais", anteontem, no
Rio, como filósofo que também é.
Concentrou-se nos pensamentos
de Descartes e Heidegger para tratar, principalmente, da modernidade e seus relativismos.
Cicero dissecou o "penso, logo
existo" de Descartes para mostrar
que a frase, fundadora da metafísica moderna, transforma em absoluto a dúvida que os homens
têm em relação a si mesmos e às
coisas, deixando livre o campo
das contingências, no qual cabem
os pensamentos e as criações artísticas, estes sim relativos.
"Tudo o que pertence ao domínio ôntico [das coisas] é relativo,
particular e afirmativo, enquanto
a esfera ontológica [do ser] é do
absoluto, do negativo", disse ele,
na Maison de France.
Por "negativo", entenda-se
aquilo que nega a possibilidade
totalitária de a dúvida cessar e
aceita a convivência de todas as
"positividades", entre elas as
obras de arte. Cicero partiu dessa
idéia para, já quando respondia a
perguntas da platéia, explicar,
com alguma ironia, por que não
mistura o poeta com o filósofo.
"A filosofia é séria, chata, diferente da poesia. O grande filósofo-artista foi Nietzsche. Heidegger, nas vezes em que tentou, acho
que ficou kitsch. Um poema é
compatível com todos os outros
que existem. Já os filósofos vivem
intrincados, tentando quase destruir uns aos outros, porque filosofias como as de Descartes e Heidegger não são compatíveis mesmo", afirmou.
Também na conversa com o público, Cicero ratificou algo que falara de passagem na palestra: "A
vanguarda chegou ao fim".
"Admiro muitos artistas que se
dizem de vanguarda, mas acho
essa autodenominação um equívoco. A vanguarda cumpriu seu
papel cognitivo, mostrou que podemos usar qualquer forma, que
um poeta pode escrever um soneto, versos livres ou como quiser.
Mas, hoje, já sabemos disso. Não
vai haver progresso artístico. Não
surgirá um poeta melhor do que
Homero, Dante ou Shakespeare.
Então, o processo cognitivo da
vanguarda chegou ao seu limite."
Cicero afirmou que, etimologicamente, a palavra "modernidade" está ligada a "agora", as coisas
que acontecem no momento, o
que faz, para ele, que a expressão
"pós-modernidade" não faça sentido. Entendido como um cenário
do indivíduo livre, o relativismo
da chamada "sociedade pós-moderna" seria, na verdade, uma vitória da modernidade, uma "prova de maturidade a que todo ser
humano quer chegar".
Na abertura da palestra, Cicero
falou especificamente do tema
"silêncio dos intelectuais". "A mídia vê o intelectual como mais um
formador de opinião, igual a uma
socialite, a um ator, a alguém que
se distinga por um ato honrado
ou não. A função do filósofo é
produzir conhecimento", disse
ele, para quem "o intelectual, como todo mundo, deve abrir a boca quando tiver algo para falar".
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