São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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Mercury Rev mostra seu mundo psicodélico

COLUNISTA DA FOLHA

"Tenho uma boa maneira de definir como vai ser nosso show aí no Brasil", diz à Folha o músico Grasshopper, guitarrista e fundador do grupo Mercury Rev, veterana formação da cena independente americana, uma das grandes atrações do Curitiba Rock Festival. "Imagine que nós somos um cavalo branco, oferecendo ao público brasileiro uma volta por uma floresta escura. É mais ou menos isso."
Essa explicação pictórica, remetendo a cores, viagens e sensações, parece vir dos "inalcançáveis" papos "freak" típicos do rock progressivo, mas no caso do Mercury Rev faz muito sentido. Esse quinteto de Bufallo, Nova York, que lançou seu primeiro álbum lá em 1991 e toca seus primeiros acordes ao vivo no Brasil depois de amanhã em Curitiba, parece mesmo uma banda progressiva com corpinho de rock independente. O Mercury Rev, sim, é como se fosse o velho Rush com espírito do Flaming Lips.
A referência de Grasshopper ao cavalo branco e a floresta escura é tirada da letra da atmosférica "Black Forest (Lorelei)", música do CD "The Secret Migration", o sexto da banda, que foi recém-lançado no Brasil e servirá de base ao show exclusivo do grupo no Brasil. Junto ao cavalo e à floresta, o Mercury Rev entrega no disco odes ao Sol, à chuva, às estações (mais diretamente ao outono), a cisnes e ao amor. Em outro paralelo rápido, o Mercury Rev dialoga com a sonoridade e os temas do britânico Radiohead, mas diferente deste último, procura manter os pés neste planeta (ainda).
"Adorei as comparações. Nossas influências de algum modo estão sim nessas bandas todas, como também na literatura e na pintura, que tentamos trazer para nossa música. Tudo isso existe na nossa pequena bolha, onde vivemos. E nossa música é isso tudo que vemos, ouvimos, lemos e sentimos", diz o guitarrista, por telefone, dos EUA, aparentemente tentando nas definições não viajar tanto o quanto está viajando.
Musicando esse mundo bucólico e de sonho do Mercury Rev vem o forte da banda, e o que o Paraná vai certamente se encantar: o som mais sofisticado e complexo que o pop permite. E que se agiganta em timbres e cores quando tocado ao vivo.
A melancolia pop orquestral do grupo de Grasshopper e do singular vocalista Jonathan Donahue continua fiel à origem da banda no final dos anos 80, como explica o guitarrista: "Quando conheci Donahue e passamos a tocar juntos, nossa idéia era compor trilhas sonoras para filmes experimentais na nossa faculdade, na Universidade de Buffalo. Quando vimos, estávamos criando música para filmes em Manhattan e gradualmente sendo tragados para a atmosfera de rock da época".
Dentro da música pop atual, Grasshopper vê dificuldade em situar o Mercury Rev hoje em dia. "Não sei se somos "classificáveis" nos padrões das lojas de discos. Estamos juntos como banda há mais de 15 anos, e ainda não sei se somos muito roqueiros para o som experimental que imaginávamos fazer ou muito experimentais para uma banda que fez certa fama dentro do chamado rock alternativo", diz. "O rock nasceu de tantas formas diferentes de música. Nem minha coleção de discos está separada na minha estante como jazz, rock, blues..."
Então dá para dizer que, mesmo vivendo em sua intimista bolha psicodélica, o Mercury Rev se sente à vontade em tocar num festival estrelado pelo garagem-pop Weezer e dividindo o domingo com os dinamarqueses barulhentos do Raveonettes.
"Gosto muito de me apresentar em festivais. Dá para conhecer bandas novas, e nos faz sentir mais modernos. É só caprichar nos óculos escuros e ir para o palco." (LÚCIO RIBEIRO)

Mercury Rev
Quando:
domingo, no Curitiba Master Hall (r. Itajubá, 123, Curitiba, tel. 0/xx/ 41/3016-8688; www.curitibarockfestival.com); de R$ 120 a R$ 180; abertura dos portões às 15h


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