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Mercury Rev mostra seu mundo psicodélico
COLUNISTA DA FOLHA
"Tenho uma boa maneira de
definir como vai ser nosso show aí
no Brasil", diz à Folha o músico
Grasshopper, guitarrista e fundador do grupo Mercury Rev, veterana formação da cena independente americana, uma das grandes atrações do Curitiba Rock
Festival. "Imagine que nós somos
um cavalo branco, oferecendo ao
público brasileiro uma volta por
uma floresta escura. É mais ou
menos isso."
Essa explicação pictórica, remetendo a cores, viagens e sensações, parece vir dos "inalcançáveis" papos "freak" típicos do
rock progressivo, mas no caso do
Mercury Rev faz muito sentido.
Esse quinteto de Bufallo, Nova
York, que lançou seu primeiro álbum lá em 1991 e toca seus primeiros acordes ao vivo no Brasil
depois de amanhã em Curitiba,
parece mesmo uma banda progressiva com corpinho de rock independente. O Mercury Rev, sim,
é como se fosse o velho Rush com
espírito do Flaming Lips.
A referência de Grasshopper ao
cavalo branco e a floresta escura é
tirada da letra da atmosférica
"Black Forest (Lorelei)", música
do CD "The Secret Migration", o
sexto da banda, que foi recém-lançado no Brasil e servirá de base
ao show exclusivo do grupo no
Brasil. Junto ao cavalo e à floresta,
o Mercury Rev entrega no disco
odes ao Sol, à chuva, às estações
(mais diretamente ao outono), a
cisnes e ao amor. Em outro paralelo rápido, o Mercury Rev dialoga com a sonoridade e os temas
do britânico Radiohead, mas diferente deste último, procura manter os pés neste planeta (ainda).
"Adorei as comparações. Nossas influências de algum modo estão sim nessas bandas todas, como também na literatura e na
pintura, que tentamos trazer para
nossa música. Tudo isso existe na
nossa pequena bolha, onde vivemos. E nossa música é isso tudo
que vemos, ouvimos, lemos e sentimos", diz o guitarrista, por telefone, dos EUA, aparentemente
tentando nas definições não viajar
tanto o quanto está viajando.
Musicando esse mundo bucólico e de sonho do Mercury Rev
vem o forte da banda, e o que o
Paraná vai certamente se encantar: o som mais sofisticado e complexo que o pop permite. E que se
agiganta em timbres e cores
quando tocado ao vivo.
A melancolia pop orquestral do
grupo de Grasshopper e do singular vocalista Jonathan Donahue
continua fiel à origem da banda
no final dos anos 80, como explica
o guitarrista: "Quando conheci
Donahue e passamos a tocar juntos, nossa idéia era compor trilhas
sonoras para filmes experimentais na nossa faculdade, na Universidade de Buffalo. Quando vimos, estávamos criando música
para filmes em Manhattan e gradualmente sendo tragados para a
atmosfera de rock da época".
Dentro da música pop atual,
Grasshopper vê dificuldade em situar o Mercury Rev hoje em dia.
"Não sei se somos "classificáveis"
nos padrões das lojas de discos.
Estamos juntos como banda há
mais de 15 anos, e ainda não sei se
somos muito roqueiros para o
som experimental que imaginávamos fazer ou muito experimentais para uma banda que fez certa
fama dentro do chamado rock alternativo", diz. "O rock nasceu de
tantas formas diferentes de música. Nem minha coleção de discos
está separada na minha estante
como jazz, rock, blues..."
Então dá para dizer que, mesmo
vivendo em sua intimista bolha
psicodélica, o Mercury Rev se
sente à vontade em tocar num festival estrelado pelo garagem-pop
Weezer e dividindo o domingo
com os dinamarqueses barulhentos do Raveonettes.
"Gosto muito de me apresentar
em festivais. Dá para conhecer
bandas novas, e nos faz sentir
mais modernos. É só caprichar
nos óculos escuros e ir para o palco."
(LÚCIO RIBEIRO)
Mercury Rev
Quando: domingo, no Curitiba Master
Hall (r. Itajubá, 123, Curitiba, tel. 0/xx/
41/3016-8688; www.curitibarockfestival.com); de R$ 120 a R$ 180; abertura
dos portões às 15h
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