São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/"O VIRGEM DE 40 ANOS"

Comédia dirigida por Judd Apatow faz sensacionalismo com sexo fora do casamento

Perda de virgindade vira meio de inclusão

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A perda da virgindade, cujo símbolo de passagem para a vida adulta foi tão bem ilustrado em "A Primeira Noite de um Homem" (67), de Mike Nichols, é agora um meio de inclusão, como nos mostra "O Virgem de 40 Anos", de Judd Apatow.
Se no filme de Nichols tínhamos, então, um pós-adolescente (Dustin Hoffman) tomando ciência dos problemas adultos a partir de sua iniciação sexual, na comédia de Apatow esta descoberta já foi superada e o problema do quarentão Andy Stitzer (Steve Carell) é outro, a solidão. Invisível até para seus colegas de trabalho, que o acham um "loser", ele, em franca aproximação a Michael Jackson, construiu sua "Neverland" em casa, lotada de brinquedos, videogames e outras memorabilias.
Até que descobrem sua virgindade, o que é uma aberração para todos, que darão toda a logística para este homem. Em meio a missões um tanto frustradas, ele assume namoro, é promovido e pensa em vender suas tranqueiras para abrir um negócio próprio.
Ou seja, a inclusão de Andy é também uma inclusão social. E a perda da virgindade, aqui, mais do que representar a maturidade, é o contraponto ao que o sexo representava nas comédias de John Landis, por exemplo: em "Clube dos Cafajestes" (78), transar era transgressão, negação às normas de uma sociedade puritana. Há pouco do cinema de Landis em "O Virgem de 40 Anos", mas Andy não deixa de ser um daqueles garotos das comédias dos anos 80 que tentavam transar a todo custo e perdiam o engate.
A fonte, agora, são os irmãos Farrelly, naquilo que seu cinema já teve de mais escatológico, o que funciona no filme, que não tem pudor em juntar na montagem ereções, jatos de urina no rosto e vaginas e pênis artificiais. São dados visuais num humor que se faz pelo verbo, nas tiradas cômicas executadas pelo bom elenco.
Mas o grande problema aqui está num filmar que faz certo sensacionalismo com o sexo, jamais o naturalizando quando fora da prisão matrimonial. Um olhar de virgem, por assim dizer.


O Virgem de 40 Anos
The 40 Year Old Virgin
 
Direção: Judd Apatow
Produção: EUA, 2005
Com: Steve Carell, Catherine Keener
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Tamboré e circuito


Texto Anterior: Festival no Anhembi destaca !!!
Próximo Texto: Mostra infantil destaca fábulas européias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.