São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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Ernesto Varela leva ao palco a história "torta" do Brasil

DA SUCURSAL DO RIO

Marcelo Tas era só um desconhecido ator do grupo de Antunes Filho quando, em 1983, foi apresentado ao desconhecido diretor de TV Fernando Meirelles. O encontro não mudou de imediato a vida do segundo, que só 20 anos depois se tornaria um cineasta famoso graças a "Cidade de Deus". Mas Tas nunca mais seria o mesmo: nascia ali Ernesto Varela, sua criação mais famosa.
É com esse misto de personagem de ficção e repórter de verdade que Tas volta aos palcos hoje, no Centro Cultural Telemar, no Rio. "Como Chegamos Aqui? - A História do Brasil Segundo Ernesto Varela" é a primeira peça teatral do tipo "ingênuo" e "espírito de porco" que funciona como alter ego do ator.
"Eu me expresso de maneira mais sincera por meio do Varela, porque ele tem uma forma dura de dizer as coisas que eu, se tivesse que assinar as frases, não usaria. Eu não falaria com Lula e Fernando Henrique da mesma forma, por exemplo", diz Tas, 45.
O atual e o ex-presidente são duas das várias figuras públicas que "contracenam" com Tas. Ele remexeu no baú de programas feitos por Varela -nas TVs Gazeta, Record, Manchete, Globo e SBT, entre outras- e selecionou trechos para o espetáculo. No telão, também são projetadas fotos e imagens que ajudam Varela a contar a (sua) história do Brasil.
"Ele conta de um jeito torto, alegórico. Mas a nossa história é tão inacreditável que a realidade supera qualquer invenção", afirma Tas, que teve a consultoria do historiador Boris Fausto.
A narrativa começa na pré-história, com imagens rupestres da serra da Capivara (PI), e chega aos dias de hoje. Duas atrizes ("vareletes") e um ator auxiliam Tas, que é dirigido por Caetano Vilela.
Ernesto Varela surgiu na época certa, na profissão certa. O país fazia sua abertura política e a imprensa reaprendia -e a de TV aprendia- a atuar em um regime democrático. Com seu jeito sonso, o personagem formulava perguntas que muitos jornalistas não tinham coragem de fazer.
"Ele não é cínico, mas irônico, irreverente. Talvez por falta de malícia, ele não tem reverência em relação às autoridades, aos cargos", explica Tas.
Um dos "atores" da peça é Nabi Abi Chedid, vítima de uma famosa pergunta de Varela na Copa de 86, quando, vice-presidente e todo-poderoso da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), dizia só falar de futebol: "Dr. Nabi, qual é a sua próxima jogada?".
"E o curioso é que o Nabi continua como dirigente da CBF. Uma das idéias do espetáculo é, exatamente, aferir o que mudou nos últimos 20 anos", diz Tas.
Com esse objetivo, ele foi a Brasília recentemente gravar depoimentos com vários políticos. Para manter "Como Chegamos Aqui?" ainda mais atualizado, há um momento da peça reservado para Varela falar de notícias quentes.
Co-produzido por Marcello Dantas, o espetáculo será transmitido pela internet, no site www.marcelotas.com.br. Tas selecionará em cena mensagens enviadas para ernestovarela@uol.com.br. A peça estréia em São Paulo em 2006. (LFV)

Como Chegamos Aqui?
Quando:
sex. a dom., às 19h30
Onde: Centro Cultural Telemar (r. Dois de Dezembro, 63, RJ, 0/xx/21/ 3131-3060)
Quanto: R$ 10


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