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Ernesto Varela leva ao palco a história "torta" do Brasil
DA SUCURSAL DO RIO
Marcelo Tas era só um desconhecido ator do grupo de Antunes Filho quando, em 1983, foi
apresentado ao desconhecido diretor de TV Fernando Meirelles.
O encontro não mudou de imediato a vida do segundo, que só 20
anos depois se tornaria um cineasta famoso graças a "Cidade
de Deus". Mas Tas nunca mais seria o mesmo: nascia ali Ernesto
Varela, sua criação mais famosa.
É com esse misto de personagem de ficção e repórter de verdade que Tas volta aos palcos hoje,
no Centro Cultural Telemar, no
Rio. "Como Chegamos Aqui? - A
História do Brasil Segundo Ernesto Varela" é a primeira peça teatral do tipo "ingênuo" e "espírito
de porco" que funciona como alter ego do ator.
"Eu me expresso de maneira
mais sincera por meio do Varela,
porque ele tem uma forma dura
de dizer as coisas que eu, se tivesse
que assinar as frases, não usaria.
Eu não falaria com Lula e Fernando Henrique da mesma forma,
por exemplo", diz Tas, 45.
O atual e o ex-presidente são
duas das várias figuras públicas
que "contracenam" com Tas. Ele
remexeu no baú de programas
feitos por Varela -nas TVs Gazeta, Record, Manchete, Globo e
SBT, entre outras- e selecionou
trechos para o espetáculo. No telão, também são projetadas fotos
e imagens que ajudam Varela a
contar a (sua) história do Brasil.
"Ele conta de um jeito torto, alegórico. Mas a nossa história é tão
inacreditável que a realidade supera qualquer invenção", afirma
Tas, que teve a consultoria do historiador Boris Fausto.
A narrativa começa na pré-história, com imagens rupestres da
serra da Capivara (PI), e chega aos
dias de hoje. Duas atrizes ("vareletes") e um ator auxiliam Tas,
que é dirigido por Caetano Vilela.
Ernesto Varela surgiu na época
certa, na profissão certa. O país fazia sua abertura política e a imprensa reaprendia -e a de TV
aprendia- a atuar em um regime
democrático. Com seu jeito sonso, o personagem formulava perguntas que muitos jornalistas não
tinham coragem de fazer.
"Ele não é cínico, mas irônico,
irreverente. Talvez por falta de
malícia, ele não tem reverência
em relação às autoridades, aos
cargos", explica Tas.
Um dos "atores" da peça é Nabi
Abi Chedid, vítima de uma famosa pergunta de Varela na Copa de
86, quando, vice-presidente e todo-poderoso da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), dizia só
falar de futebol: "Dr. Nabi, qual é a
sua próxima jogada?".
"E o curioso é que o Nabi continua como dirigente da CBF. Uma
das idéias do espetáculo é, exatamente, aferir o que mudou nos últimos 20 anos", diz Tas.
Com esse objetivo, ele foi a Brasília recentemente gravar depoimentos com vários políticos. Para
manter "Como Chegamos Aqui?"
ainda mais atualizado, há um momento da peça reservado para
Varela falar de notícias quentes.
Co-produzido por Marcello
Dantas, o espetáculo será transmitido pela internet, no site
www.marcelotas.com.br. Tas selecionará em cena mensagens enviadas para ernestovarela@uol.com.br. A peça estréia em São Paulo em 2006.
(LFV)
Como Chegamos Aqui?
Quando: sex. a dom., às 19h30
Onde: Centro Cultural Telemar (r. Dois
de Dezembro, 63, RJ, 0/xx/21/ 3131-3060)
Quanto: R$ 10
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