São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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Will Eisner aborda farsa anti-semita

Em sua última e mais realista HQ, o norte-americano desmascara mentira divulgada no século 19

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Will Eisner (1917-2005) foi um dos maiores quadrinistas do mundo. Suas obras eram conhecidas pela humanidade das personagens, exceções no mercado norte-americano, repleto de revistas de super-heróis ou humor. "O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião", sua última história em quadrinhos, está saindo agora no Brasil e traz um diferencial: um Will Eisner mais realista e sério do que nunca.
As histórias anteriores de Eisner eram sérias em sua maioria, mas tinham espaço para um pouco de aventura, humor ou lirismo. Dessa vez, pela complexidade do assunto, Eisner priorizou um relato mais objetivo.
O tema do livro é o embuste chamado "Protocolos dos Sábios do Sião", um falso documento criado no final do século 19 para influenciar o czar russo a tomar medidas anti-semitas.
O texto "provaria" que os judeus orquestrariam um plano secreto para dominar o mundo. Na verdade, era uma deturpação tosca do livro "Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu", de 1864.
A falsificação espalhou-se pela Europa e só foi desmascarada em uma matéria publicada no jornal britânico "The Times" em 1921.
A revelação da farsa não acabou com a força do "documento". Eisner relata publicações dos "Protocolos do Sião" posteriores a 1921 em vários lugares do mundo, como Estados Unidos, Japão e Brasil.
O que preocupava Eisner, e o que o motivou a escrever "O Complô", é que houve outras comprovações de que os "Protocolos" não passam de um embuste, e mesmo assim ele continuou sendo usado: Adolf Hitler o citou no livro "Minha Luta", e a Ku Klux Klan já o distribuiu nos Estados Unidos.
Não pára por aí: mais de um século após sua criação e 85 anos depois de seu desmascaramento, há sites na internet com traduções para pelo menos dez idiomas. Por que os ditos "Protocolos do Sião" ainda são difundidos? Por que há pessoas que acreditam neles? Por que há os que sabem se tratar de um engodo, mas o divulgam assim mesmo, para alertar "como são os judeus"?
Will Eisner procurou as respostas. Além disso, fez o que pôde contra o "documento". Ele sabia que, por mais acessível que fosse a linguagem dos quadrinhos, não seria seu livro que sepultaria de vez com os "Protocolos do Sião". Mas não quis deixar de fazer a sua parte para combatê-los.


O COMPLÔ - A HISTÓRIA SECRETA DOS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DO SIÃO
Autor:
Will Eisner
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 36, em média (160 págs.)


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