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Crítica
Herzog registra o absurdo em "Fitzcarraldo"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Feito em 1982, "Fitzcarraldo" (TC Cult, 23h55) está na
franja, nos estertores da fase
mais criativa de Werner Herzog. Para ele, qualquer absurdo
não era apenas possível, mas a
única coisa interessante que se
podia filmar.
Então, a aventura do alemão
disposto a criar um teatro de
ópera no meio da selva amazônica nos surge como, praticamente, a única coisa possível
que um homem pode fazer para
que sua existência tenha sentido. Como se a gratuidade da
aventura desse sentido à vida.
Como se do não sentido da vida
só pudéssemos ser salvos pela
aventura.
A cena emblemática do filme
é aquela em que um navio é
transportado por terra, como
se esse desvio de função visasse
fazer do navio uma espécie de
peça cenográfica. Como se desse vazão à demência de Fitzcarraldo, cujo desarranjo fica mais
claro na interpretação de Klaus
Kinski e adquire sua dimensão:
é uma natureza absoluta com a
qual uma subjetividade absoluta está em guerra.
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