São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Mostra aborda sexo ao longo da história

Exposição no Barbican, em Londres, reúne cerca de 300 obras, entre elas ilustrações da dinastia Ming e curtas de Andy Warhol

Proibida para menores de 18, mostra teve inspeção policial e cobre período de 2.000 anos para mostrar como o homem representa o sexo

ALEXANDRE XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

É um tema vasto, recorrente, universal, cotidiano e secular, mas é proibido para menores de 18 anos. Na exposição "Seduced: Art and Sex from Antiquity to Now" (Seduzido: arte e sexo da antigüidade à atualidade), em cartaz no Barbican Art Gallery em Londres até 27/1, até a polícia teve de entrar em cena para verificar se o material exposto não depunha contra a lei e a moral.
São quase 300 trabalhos que percorrem 2.000 anos para mostrar como a humanidade representou e representa o sexo. Estão ali desde cerâmicas com imagens eróticas do século 6 a.C. até a ex-atriz pornô Cicciolina em tela gigantesca.
"Seduced" é sobre como se vê, e não sobre como se faz sexo. Consegue mostrar explicitamente -e, ainda assim, sem ser pornográfico- que o tema pode ser visto de 300 maneiras diferentes. Cada civilização e cada época teve sua maneira de ver (ou esconder) o sexo.
"Sexo é parte universal do ser humano. Não interessa quando, onde ou com quem: sexo é sexo", diz Joanne Bernstein, uma das curadoras da exposição. Mas é curioso como um tema universal e intrínseco ao ser humano pode ser tão complexo e polêmico. Uma das obras mais provocantes da exposição é uma videoinstalação que projeta fotos do famoso estudo do professor Alfred Kinsey (1894-1956) sobre o sexo. As imagens do capítulo "sexo oral homossexual" fazem com que alguns saiam da sala a passos largos.
Ilustrações da dinastia Ming (1368-1664), por exemplo, mostram que as imagens do coito eram muito mais toleradas na cultura chinesa há séculos do que agora. Até aparecer o confucionismo, a influência do cristianismo e Mao Tse-tung, os chineses acreditavam que o "sexo era a chave para a imortalidade". Trezentos anos depois, na França, os surrealistas chegaram a uma conclusão parecida ("Só dando voz ao desejo sexual é que o homem entende o núcleo do seu ser e alcança a saúde da psique") e ressuscitaram histórias eróticas do Marquês de Sade.
Até J.M.W. Turner (1775-1851), pintor inglês reconhecido pelo retrato de paisagens, explorou o tema. Só que parte de seus ensaios foram jogados no lixo por um crítico de arte vitoriano que achou os desenhos eróticos perigosos para a reputação do pintor. Já Rodin (1840-1917) e Picasso (1881-1973) foram mais a fundo na exploração da arte sexual e chegaram a ter relações sexuais com algumas de suas modelos (aos 22 anos o pintor espanhol retratou em sua fase azul uma dessas experiências no quadro "La Douleur", exposto no segundo andar de "Seduced").
A exposição termina com um passeio pelo século 20, quando o sexo se tornou também político e comercial. Tem os sugestivos curtas de Andy Warhol ("Kiss" e "Blowjob") e as fotografias impressionantes de Nobuyoshi Araki (uma imagem mostra um caramujo saindo do ânus de uma mulher).


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