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Niemeyer diz que ficou mais otimista
Arquiteto lança livro com artigos, mas reclama da ausência de datas para situar os textos no tempo
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A menos de dois meses do
101º aniversário, o arquiteto
Oscar Niemeyer lança um livro
de crônicas e alguns desenhos,
em que alterna textos pessimistas e otimistas -para sua
própria surpresa. O otimismo é
recente; o pessimismo, antigo.
"Crônicas" reúne 28 artigos,
quase todos publicados em jornais e revistas "durante as últimas décadas", conforme a
apresentação do autor. Poucos
textos foram escritos especialmente para o livro.
A edição não informa as datas em que os artigos saíram na
imprensa nem revela quais textos são inéditos. O defeito desagradou a Niemeyer -ele revelou em entrevista à Folha, em
seu escritório voltado para o
mar de Copacabana.
"O ruim no livro é que não
marcou as datas. De modo que,
quando é coisa antiga, eu me
sinto mais pessimista nas respostas. Respondo de maneira
diferente. (...) Mas quando é
coisa mais recente, minha posição é mais de esperança. O país
está caminhando bem, o Lula
está cumprindo o dever dele.
Ele é amigo do povo, tem apoio
popular, ele participa bem da
luta política", disse o arquiteto.
Outra razão para o neo-otimismo de Niemeyer, segundo
ele mesmo, é a mudança que vê
na sociedade norte-americana.
"Conheço bem os Estados
Unidos, conheço bem o povo
americano, o que tem de bom,
o que tem de ruim. Houve um
tempo em que o negro não entrava em certos ônibus, a discriminação social era violenta.
Isso está mudando. O apoio
que estão dando ao negro é
uma prova de que o povo está
evoluindo na luta contra a discriminação racial, que era a
pior possível. [Obama] é um
negro que está sendo aceito pelo povo americano."
Em "Crônicas", Niemeyer
lembra amizades antigas
(Darcy Ribeiro, Leonel Brizola
e João Saldanha, entre outros),
discute a arquitetura atual e
antiga e reclama a necessidade
de interromper o crescimento
desordenado de Brasília, uma
de suas grandes obras.
O arquiteto repete, cada vez
mais, que os estudos recentes
de filosofia e cosmologia firmaram nele a convicção de que,
diante do universo, "o ser humano, no final, não tem a menor importância". "Eu acho
que é preciso a pessoa chegar
ao ponto de ter prazer em ajudar o outro. A vida é um sopro."
Outra preocupação manifestada pelo arquiteto é a juventude. "O jovem sai da escola como
especialista, só sabe os assuntos da profissão. Da luta política, (...) de fazer a vida mais justa
para todos, ele não participa,
não está preparado para isso. O
momento agora é de esclarecer
a juventude, que não lê, não
participa de nada, entra na vida
sem conhecer o bem e o mal."
CRÔNICAS
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
Quanto: R$ 30 (113 págs.)
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