São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Niemeyer diz que ficou mais otimista

Arquiteto lança livro com artigos, mas reclama da ausência de datas para situar os textos no tempo

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A menos de dois meses do 101º aniversário, o arquiteto Oscar Niemeyer lança um livro de crônicas e alguns desenhos, em que alterna textos pessimistas e otimistas -para sua própria surpresa. O otimismo é recente; o pessimismo, antigo.
"Crônicas" reúne 28 artigos, quase todos publicados em jornais e revistas "durante as últimas décadas", conforme a apresentação do autor. Poucos textos foram escritos especialmente para o livro. A edição não informa as datas em que os artigos saíram na imprensa nem revela quais textos são inéditos. O defeito desagradou a Niemeyer -ele revelou em entrevista à Folha, em seu escritório voltado para o mar de Copacabana.
"O ruim no livro é que não marcou as datas. De modo que, quando é coisa antiga, eu me sinto mais pessimista nas respostas. Respondo de maneira diferente. (...) Mas quando é coisa mais recente, minha posição é mais de esperança. O país está caminhando bem, o Lula está cumprindo o dever dele.
Ele é amigo do povo, tem apoio popular, ele participa bem da luta política", disse o arquiteto.
Outra razão para o neo-otimismo de Niemeyer, segundo ele mesmo, é a mudança que vê na sociedade norte-americana.
"Conheço bem os Estados Unidos, conheço bem o povo americano, o que tem de bom, o que tem de ruim. Houve um tempo em que o negro não entrava em certos ônibus, a discriminação social era violenta.
Isso está mudando. O apoio que estão dando ao negro é uma prova de que o povo está evoluindo na luta contra a discriminação racial, que era a pior possível. [Obama] é um negro que está sendo aceito pelo povo americano."
Em "Crônicas", Niemeyer lembra amizades antigas (Darcy Ribeiro, Leonel Brizola e João Saldanha, entre outros), discute a arquitetura atual e antiga e reclama a necessidade de interromper o crescimento desordenado de Brasília, uma de suas grandes obras.
O arquiteto repete, cada vez mais, que os estudos recentes de filosofia e cosmologia firmaram nele a convicção de que, diante do universo, "o ser humano, no final, não tem a menor importância". "Eu acho que é preciso a pessoa chegar ao ponto de ter prazer em ajudar o outro. A vida é um sopro."
Outra preocupação manifestada pelo arquiteto é a juventude. "O jovem sai da escola como especialista, só sabe os assuntos da profissão. Da luta política, (...) de fazer a vida mais justa para todos, ele não participa, não está preparado para isso. O momento agora é de esclarecer a juventude, que não lê, não participa de nada, entra na vida sem conhecer o bem e o mal."

CRÔNICAS
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
Quanto: R$ 30 (113 págs.)



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