São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Falta de lojas virtuais e pirataria andam juntas

Gravadoras como a Sony dizem ser preciso aumentar oferta de música legal

Em 2008, música digital movimentou R$ 45 milhões; apreensão de CDs e DVDs piratas chegou a 41 milhões de unidades no país


DA REPORTAGEM LOCAL

"As gravadoras, ao restringirem as opções de música digital, acabaram incentivando a pirataria. Qualquer tele arrecada mais com música digital do que as gravadoras." A afirmação de Bruno Rocha, gerente de desenvolvimento de novos negócios da Oi, encontra eco não só entre estudiosos do direito autoral como também entre quem é da indústria musical -na sua ponta independente.
"A indústria começou a se comportar como se vivesse de um formato físico, o CD", diz João Marcello Bôscoli, da gravadora Trama. "Não existe um ser humano que a internet tenha inventado. Sempre existiu o garoto que gravava o disco na fita cassete e distribuía pela escola. A indústria só vai encontrar saídas quando entender que pirataria não se resolve com batida policial."
Mas, como indicam os passos de empresas como a Sony, as gravadoras passaram a buscar alternativas. Perguntado sobre o quanto as gravadoras tinham perdido o "trem da história" e deixado o Brasil órfão de música digital legal, Cláudio Vargas, disse não ser "relevante discutir trens passados".
Segundo ele, a visão da empresa sobre futuro e novas mídias é outra. "O digital e as ações de venda de conteúdo e de marketing em mídias digitais é um dos grandes pilares estratégicos da companhia."
Vargas admite que, mais importante que combater a pirataria, é oferecer novas possibilidades ao consumidor. "Precisamos aumentar o número de lojas e modelos de negócio para que o consumidor tenha mais ofertas e opções."
Adrien Harley, que hoje cuida de música da Nokia brasileira, viveu esse mesmo momento na Inglaterra. Há um par de anos. Trabalhando com a empresa Play It Again, Sam, a maior distribuidora de música eletrônica da Europa, ele lançou as versões digitais de Moby e Oasis, em parceria com grupos do porte da rede Wal-Mart ou sites como BBC e Yahoo.
"Foi todo um processo para convencer gravadoras e artistas. Tivemos de evangelizar o mercado", diz. "A venda de CDs caía e, mesmo assim, havia artistas que resistiam a entrar no digital. Mas, na Europa, esse momento foi superado."
Segundo Harley, a música digital movimentou, em 2008, R$ 45 milhões no Brasil. Em 2007, tinham sido R$ 24 milhões. Ao comentar a sempre alardeada crise da indústria fonográfica, ele observa que, a despeito da queda vertiginosa da venda de CDs, outras fontes vieram em socorro do negócio.
"O "ao vivo", na Inglaterra, saltou de 15 milhões de libras em 2003 para 27 milhões em 2008. A arrecadação de direitos autorais e o dinheiro vindo de patrocínios e de outras mídias, como os games, que usam música, também cresceu. Apenas a música gravada caiu."
O colunista da Folha Ronaldo Lemos faz um resumo disso ao dizer, simplesmente, que ocorreu uma mudança na economia dos bens culturais. "Não adianta insistir em modelos de negócio que não fazem mais sentido para o consumidor digital", diz. "A guerra do direito autoral será vencida no campo econômico, através de modelos de negócio que sejam competitivos em face da pirataria."
Enquanto as lojas e modelos virtuais procuram seu espaço, apenas em 2008 a Associação Antipirataria Cinema e Música apreendeu 41 milhões de unidades de CDs e DVDs piratas. (ANA PAULA SOUSA)


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