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Falta de lojas virtuais e pirataria andam juntas
Gravadoras como a Sony dizem ser preciso aumentar oferta de música legal
Em 2008, música digital movimentou R$ 45 milhões; apreensão de CDs e DVDs piratas chegou a 41 milhões de unidades no país
DA REPORTAGEM LOCAL
"As gravadoras, ao restringirem as opções de música digital, acabaram incentivando a
pirataria. Qualquer tele arrecada mais com música digital do
que as gravadoras." A afirmação de Bruno Rocha, gerente de
desenvolvimento de novos negócios da Oi, encontra eco não
só entre estudiosos do direito
autoral como também entre
quem é da indústria musical
-na sua ponta independente.
"A indústria começou a se
comportar como se vivesse de
um formato físico, o CD", diz
João Marcello Bôscoli, da gravadora Trama. "Não existe um
ser humano que a internet tenha inventado. Sempre existiu
o garoto que gravava o disco na
fita cassete e distribuía pela escola. A indústria só vai encontrar saídas quando entender
que pirataria não se resolve
com batida policial."
Mas, como indicam os passos
de empresas como a Sony, as
gravadoras passaram a buscar
alternativas. Perguntado sobre
o quanto as gravadoras tinham
perdido o "trem da história" e
deixado o Brasil órfão de música digital legal, Cláudio Vargas,
disse não ser "relevante discutir trens passados".
Segundo ele, a visão da empresa sobre futuro e novas mídias é outra. "O digital e as
ações de venda de conteúdo e
de marketing em mídias digitais é um dos grandes pilares
estratégicos da companhia."
Vargas admite que, mais importante que combater a pirataria, é oferecer novas possibilidades ao consumidor. "Precisamos aumentar o número de
lojas e modelos de negócio para
que o consumidor tenha mais
ofertas e opções."
Adrien Harley, que hoje cuida de música da Nokia brasileira, viveu esse mesmo momento
na Inglaterra. Há um par de
anos. Trabalhando com a empresa Play It Again, Sam, a
maior distribuidora de música
eletrônica da Europa, ele lançou as versões digitais de Moby
e Oasis, em parceria com grupos do porte da rede Wal-Mart
ou sites como BBC e Yahoo.
"Foi todo um processo para
convencer gravadoras e artistas. Tivemos de evangelizar o
mercado", diz. "A venda de CDs
caía e, mesmo assim, havia artistas que resistiam a entrar no
digital. Mas, na Europa, esse
momento foi superado."
Segundo Harley, a música digital movimentou, em 2008, R$
45 milhões no Brasil. Em 2007,
tinham sido R$ 24 milhões. Ao
comentar a sempre alardeada
crise da indústria fonográfica,
ele observa que, a despeito da
queda vertiginosa da venda de
CDs, outras fontes vieram em
socorro do negócio.
"O "ao vivo", na Inglaterra,
saltou de 15 milhões de libras
em 2003 para 27 milhões em
2008. A arrecadação de direitos
autorais e o dinheiro vindo de
patrocínios e de outras mídias,
como os games, que usam música, também cresceu. Apenas a
música gravada caiu."
O colunista da Folha Ronaldo Lemos faz um resumo disso
ao dizer, simplesmente, que
ocorreu uma mudança na economia dos bens culturais. "Não
adianta insistir em modelos de
negócio que não fazem mais
sentido para o consumidor digital", diz. "A guerra do direito
autoral será vencida no campo
econômico, através de modelos
de negócio que sejam competitivos em face da pirataria."
Enquanto as lojas e modelos
virtuais procuram seu espaço,
apenas em 2008 a Associação
Antipirataria Cinema e Música
apreendeu 41 milhões de unidades de CDs e DVDs piratas.
(ANA PAULA SOUSA)
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