São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Comentário

Mostra é importante, mas se tornou menos urgente

TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Neste ano, entraram em cartaz em São Paulo filmes de quase 30 países. Vieram títulos da Turquia, da Romênia, da Tunísia e do Cazaquistão. Muitos fizeram carreiras discretas nas salas "de arte", mas não importa: entraram em cartaz. Não foram exibições especiais nem parte de retrospectivas. Disputaram público com "Tá Chovendo Hambúrguer" e "Se Beber, Não Case".
Há dez ou 20 anos, a situação era diferente. Filmes "exóticos", de países "periféricos", só na Mostra e olhe lá. Vencedores do prêmio César e campeões das bilheterias gaulesas não saíam nem em vídeo. A Mostra funcionava como uma janela temporária, transbordando de opções, e de curtíssima duração. Como ver tanto filme em tão pouco tempo? Impossível. Os aficionados acabavam se enganando, vendo porcarias e deixando escapar obras-primas. Por todos os séculos e séculos, amém.
Se o panorama mudou, a Mostra tem a ver com isso. Ela educou uma geração de espectadores e provou que existe mercado para obras que não seguem o padrão blockbuster. Criou um selo, o Filmes da Mostra, para distribuir os queridinhos de seu público. E, ao cumprir tão nobre objetivo, deu um tiro no próprio pé.
Hoje ela continua importante, mas menos urgente. Para que correr, procurar vaga e enfrentar fila? Só para ver o novo do Almodóvar? Daqui a um mês ele entra em cartaz. "A Fita Branca", ganhador de Cannes, tem estreia garantida. E dezenas de filmes só estarão na Mostra para dar o pontapé inicial nas carreiras. Depois os veremos nos cinemas dos shoppings, em DVD, na TV a cabo, nas Lojas Americanas. E, talvez, já os tenhamos visto em versões baixadas da internet sem a menor cerimônia.
Então a Mostra esvaziou? Por um lado, não. O público cresce a cada ano, as permanentes se esgotam em minutos, as filas seguem imensas. Mas é cada vez mais raro o frisson, quase desespero: "Ou vemos o Jarmusch hoje, ou baubau". Ah, que saudade da Mostra.


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