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FESTIVAL DE BRASÍLIA
Filme "Uma Vida em Segredo" foi concluído há duas semanas e compete na categoria principal
Suzana Amaral estréia seu "mistério"
DA ENVIADA A BRASÍLIA
"É um mistério. Nem minha família viu", diz a cineasta Suzana
Amaral, sobre seu segundo longa,
"Uma Vida em Segredo", concluído há duas semanas.
O ineditismo termina hoje, no
terceiro dia da mostra competitiva do 34º Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro, em que o filme
compete na categoria principal
-longas em 35 mm.
Adaptado da obra literária de
Autran Dourado, "Uma Vida em
Segredo" acompanha a história
de Biela (Sabrina Greve), jovem
interiorana e rica que, com a morte dos pais, se vê obrigada a morar
na casa do primo, seu tutor e patriarca de uma família de hábitos
bem menos simples.
É, portanto, uma história sobre
relações familiares, choque cultural, poder e ascendência. Enfim,
um conto de formação.
A diretora diz que participa do
Festival de Brasília "não para ganhar, mas para passar pelo teste
de tela, a hora da verdade", ou seja, "para sentir a reação do público". Esse, em especial, a cineasta
classifica de "corajoso".
"Quando a platéia de Brasília
gosta, gosta. E quando não gosta,
não gosta mesmo", diz, com a experiência de quem já ouviu infindáveis aplausos por "A Hora da
Estrela", no festival de 85.
Premiado também em Berlim
(Urso de Prata para Marcélia Cartaxo, a intérprete de Macabéa), o
filme teria mais repercussão se o
sucesso nas competições fosse obtido hoje, e não na década de 80,
disse a diretora. "Naquele tempo
as coisas ainda eram tímidas."
Antes do longa de Amaral, serão
exibidos, também em competição, os curtas em 35 mm "Glauces
- Estudos de um Rosto", de Joel
Pizzini, e "Negócio Fechado", de
Rodrigo Costa. A programação de
ontem escalou o épico gaúcho
"Netto Perde a Sua Alma", de Beto Souza e Tabajara Ruas, e os
curtas "Retrato Pintado", de Joe
Pimentel, e "O Tempo dos Objetos", de Bruno Carneiro.
Na abertura da competição,
quarta-feira, o público presente
ao Cine Brasília (em número consideravelmente maior que os 600
lugares disponíveis) parecia desde o início mais disposto a vaiar
do que a aplaudir.
Impaciente com o atraso de
meia hora para o início da sessão,
refratária ao anúncio institucional
que a precedeu (da TV Cultura e
Arte, do Ministério da Cultura) e
inquieta com a própria falta de
acomodação, parte da platéia
vaiou o curta-metragista paranaense Paulo Munhoz, enquanto
ele fazia a apresentação de seu filme, "O Poeta" (10 min).
Começada a projeção, a algazarra foi tamanha que impediu a audição do filme durante alguns minutos. A turma assentada na primeira metade do teatro aguardou
o fim da exibição do curta para levantar-se, vaiar o pessoal do "fundão" e pedir sua retirada, aos gritos de "expulsa, expulsa".
Os que estavam nas últimas fileiras pediam "senta, senta" e,
inatendidos, apelavam para o
"egoísta, egoísta". A organização
do festival manteve as luzes acesas
e pediu tranquilidade.
"Fiquei muito assustado e chateado porque achei que aquela
reação era contra o meu filme. Se
é para vaiar, que vejam primeiro e
vaiem depois", disse Munhoz. O
diretor pretende solicitar à organização do festival uma nova projeção de seu filme.
Em resumo, essa parecia a menos indicada das platéias para o
longa da noite, "Lavoura Arcaica", de Luiz Fernando Carvalho,
um filme com 163 minutos de duração, recheado de silêncios e
tempos mortos. Mas foi o diretor
que, da cabine de projeção, determinou: "Solta o filme".
Seguiram-se quase três horas de
absoluto silêncio, interrompido
apenas por aplausos, quando os
créditos finais escalavam a tela.
"Foi ótimo. Calou o público", avaliou Luiz Fernando Carvalho, enquanto recebia cumprimentos
dos que deixavam a sala.
(SILVANA ARANTES)
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do festival
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