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MÚSICA & TECNOLOGIA
Licenças para reprodução ganham mais adeptos no Brasil; ministro Gilberto Gil participa do projeto
Creative Commons transforma noção autoral
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Do Ministro da Cultura Gilberto
Gil ao apresentador de TV Marcelo Tas, passando pela prefeitura
da cidade de Olinda: todos aderiram a um tipo de licença de direitos autorais que permite o acesso
às suas obras, sem que os usuários
sejam considerados piratas, os
Creative Commons (CC).
Criada por Lawrence Lessig, advogado e professor da Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos, as licenças CC são usadas
hoje por cerca de 53 milhões de
pessoas em mais de 30 países.
Um dos resultados mais famosos dessa liberação é o remix de
DJ Dolores para a música "Oslodum", de Gilberto Gil, que entrou
na coletânea lançada pela revista
americana "Wired", em novembro de 2004.
Aqui no Brasil, país que Lessig
considera na vanguarda das CC, uma
leva de novos artistas está utilizando obras liberadas sob CC para criar.
Esse é o caso dos pernambucanos do Originais do Sample, que
há quatro anos fazem um trabalho "inédito" a partir de músicas
de outras pessoas. A banda, que
tem entre seus integrantes instrumentistas do Mombojó e o cantor
China, utiliza desde softwares livres a composições publicadas
sob a licença.
Em janeiro, eles devem lançar
um disco que será inteiro disponibilizado em uma gravadora na internet. "A maioria dos discos que
eu baixo [na rede] são de "net labels'", diz o programador Felipe
Machado, 29. "Também estou licenciando todos os loops e samples das músicas dos Originais em
Creative Commons."
Além de participar do Originais
do Sample, Machado é DJ e montou um set inteiro de discotecagem, com estilos como IDM, dub
e hip hop, em que utiliza apenas
softwares livres para tocar. "Não
dá para piratear software a vida
inteira", diz ele. "Quero incentivar a produção livre e estou migrando para esses softwares."
Também de Pernambuco, Estado que se tornou um reduto de artistas envolvidos com os Creative
Commons -DJ Dolores e Mombojó licenciaram músicas dessa
forma-, o coletivo de live-images Media Sana faz apresentações
que mesclam música e projeção
de imagens utilizando material liberado em CC.
"Quando faço trabalho como VJ
só utilizo sample de CC", afirma
Gabriel Furtado, 38, integrante do
grupo. Além de material produzido pelo Media Sana, ele costuma
utilizar imagens de sites como o
www.archive.org, que tem um
banco de acesso livre na internet.
"No Brasil, a realidade econômica impede que todas as pessoas
que sampleiam paguem direitos
autorais", acredita Furtado.
Outro coletivo pernambucano,
o Re:Combo, que até batiza uma
licença, possui um banco de dados na internet que artistas como
Esmeraldo Marques Pergentino
Filho, 28, o líder da banda paraibana Chico Correa, costuma utilizar como fonte.
O grupo, que se apresentou na
edição carioca do Tim Festival de
2003, mescla referências da cultura nordestina com música eletrônica e deve lançar seu primeiro
trabalho em 2006. Todas as faixas
estarão disponíveis em MP3 no site www.chicocorrea.com.br.
"Todo o material poderá ser copiado, reutilizado e distribuído,
desde que seja sem fins comerciais", conta Filho. "Para produzir, estou sempre pegando coisas
no Re:Combo e em outras fontes
na internet", diz ele.
Na rede
Além de Gil e DJ Dolores, outro
brasileiro foi parar no CD da "Wired", só que pelo caminho inverso. O rapper e produtor de hip
hop Munhoz, 28, entrou no site
que a revista criou, disponibilizando as músicas dos artistas que
participaram de sua coletânea,
sampleou algumas faixas. O resultado foi tão bom que ele foi um
dos escolhidos - o único do
país- para integrar o segundo
disco lançado pela publicação, este com os remixes feitos para os
artistas do primeiro CD.
Munhoz utilizou composições
de Matmos e Spoon para criar
"Out of My Way". "Juntei as duas
e fiz uma "track" meio atmosférica,
com influências de trip hop", diz.
Apesar do sucesso, o produtor
não é adepto das licenças CC.
"Uso tanta coisa ilegal que não
poderia listar. Tem um mundo inteiro de músicas para samplear."
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