|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO EDITORIAL
Edital do governo muda regras de compras públicas e provoca reviravoltas na disputa pelo setor
Dicionários terão mudança "substantiva"
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não haverá Natal, Réveillon
nem Carnaval para um grupo seleto de profissionais do livro. Os
"dicionaristas" vão passar todo o
verão com as caras enfiadas na
sombra de seus verbetes.
Um edital divulgado na semana
passada pelo MEC mudou as regras do jogo para compras governamentais de dicionários e aqueceu ainda mais a disputa pelo filão, que já vivia em cadência acelerada com a mudança de casa do
"Aurélio" e o lançamento dos novos "Caldas Aulete" e "Larousse".
As alterações propostas pelo governo, que compra cerca de 70%
da produção de dicionários, foram substantivas (e não ganharam os melhores adjetivos do
mercado editorial).
A Secretaria de Educação Básica
do MEC estabeleceu que o governo vai comprar não mais um tipo
de dicionário, mas três. Além dos
que já vinham sendo adquiridos,
na faixa de 25 mil a 35 mil verbetes
(os chamados mini ou escolar),
passa a comprar modelos com
mil a 3.000 e de 3.000 a 10 mil verbetes, para crianças de 1ª a 4ª série.
"As crianças de seis a sete anos,
em processo de alfabetização, estavam recebendo dicionários de
25 mil a 35 mil verbetes. Elas dificilmente usariam os livros", diz a
diretora de Políticas de Educação
Infantil e Ensino Fundamental da
SEB-MEC, Jeanette Beauchamp.
Ela salienta que a outra grande
mudança, na política de distribuição dos volumes, está ligada a esta
mesma avaliação de que os dicionários não estavam sendo bem
aproveitados. Se antes eles eram
distribuídos para cada aluno, agora serão consultados coletivamente em sala de aula. "De nada
vale distribuição sem mediação."
As medidas não foram bem recebidas pelo meio editorial. A instituição mais importante de editoras de livros didáticos, a Abrelivros, encaminhou na sexta-feira
uma carta ao FNDE questionando 11 pontos do edital.
"Os dois maiores problemas foram o prazo que recebemos para
fazer produtos que poucos tinham no mercado e o número altíssimo de indefinições do documento", diz João Arinos, presidente da entidade.
As editoras interessadas têm até
4 de março para entregarem os
protótipos impressos dos dicionários que pretendem vender ao
governo. A Abrelivros reivindica
que o processo seja esticado pelo
menos até 6 de maio.
Editor de uma das principais famílias de dicionários no mercado,
a "Houaiss", Roberto Feith, da
Objetiva, diz que a mudança proposta pelo governo tem "consistência" e "nexo", mas é um dos
que defende que a ampulheta do
MEC tem muito pouca areia.
"Não é só questão de reformatação de dicionários que já temos.
Precisaríamos desenvolver verbetes adequados para as crianças
que estão aprendendo a ler."
Feith diz que ele e a equipe do
Instituto Antonio Houaiss vão
passar as festividades de final de
ano "queimando pestanas" para
ver se entrarão na disputa pelos tipos 1 e 2 (o tipo 3 eles já têm).
"Vamos comer o peru em uma
hora e meia e voltar ao trabalho",
brinca Breno Lerner, da Melhoramentos. Dona da marca Michaelis, que acaba de colocar no mercado um diferencial importante
no segmento "escolar" (a inclusão
de um CD-ROM gratuito), a Melhoramentos trabalhará para os
tipos 1 e 2 em cima de produtos
que já tinha no catálogo.
É o caso também da Nova Fronteira. Antiga dona do "Aurélio"
(agora com o grupo paranaense
Positivo), a editora ainda têm direitos sobre a versão infantil desta
marca, com desenhos da Turma
da Mônica. O dicionário será remodelado para se encaixar no tipo 1. Para o tipo 3 ela acaba de lançar uma versão totalmente nova, e
com muitos diferenciais, do tradicional "Caldas Aulete". O "tipo 2"
ainda está sendo estudado.
Situação análoga vive a Larousse. A gigante francesa de dicionários, que lançou há pouco seu modelo escolar (tipo 3), fará ajustes
em seu "Meu Primeiro Larousse
Dicionário", ilustrado, para atender as crianças de 1ª e 2ª série.
Também trabalham no tipo 2.
"Neste país é impossível trabalhar
sem pensar nas compras do governo", diz o diretor da empresa,
Jean-Christophe Marc.
Embora o número de dicionários não esteja definido no edital,
assim como a verba que será usada na empreitada, estima-se que
serão adquiridos cerca de 4 milhões de exemplares (Beauchamp
diz que serão comprados cerca de
um dicionário para cada quatro
alunos -o número total de alunos nessas séries é de 17 milhões),
números atraentes para toda a
turma das letras.
Texto Anterior: Ilustrada: Raul Cortez deve receber alta amanhã Próximo Texto: Livros: Editora de SP é acusada de plagiar mais duas obras Índice
|