|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
Traduções de "Mulheres Apaixonadas", de D.H. Lawrence, e "Os Sonâmbulos", de Hermann Broch, são copiadas
Editora de SP é acusada de plagiar mais duas obras
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Constatada pela Folha em 11/12,
a cópia da tradução de Francisco
Inácio Peixoto para o romance
"Oblomov", de Ivan Alexandrovitch Gontcharov, não é o único
caso de plágio da editora Germinal. O crítico Alfredo Monte, de
"A Tribuna", de Santos, revelou
em julho deste ano que outros
dois livros do selo paulista são cópias de traduções já existentes.
Um dos livros é "Mulheres
Apaixonadas", do autor inglês
D.H. Lawrence (1885-1930). A
Germinal lançou em 2002 uma
tradução assinada por Felipe Padula Borges, sobrinho do então
proprietário da editora, o advogado e jornalista Wilson Hilário
Borges, morto em março de 2002
aos 62 anos.
O texto é praticamente idêntico
ao de uma tradução feita pelo
português Cabral do Nascimento
e que, adaptada por Ruth de Biasi,
foi lançada no Brasil nos anos 80
pela Record. Em 2004, a mesma
Record lançou uma nova tradução, de Renato Aguiar.
"Segundo Felipe, o livro foi traduzido pelo Wilson, que lhe pediu
para acertar algumas palavras e
dar a forma final no texto. É o que
eu sei", diz a jornalista Vera Lúcia
Rodrigues, 49, que viveu 22 anos
com Borges e hoje responde pela
Germinal. De acordo com ela, a
editora era um projeto exclusivo
de Borges, sobre o qual a família
pouco sabia.
O outro romance plagiado é "Os
Sonâmbulos", do austríaco Hermann Broch (1886-1951). A Germinal publicou em um só livro os
três volumes das Edições 70, de
Portugal, lançados em 1988. O
primeiro foi traduzido por Antônio Ferreira Marques e os outros
dois, por Jorge Camacho.
No livro da Germinal, o nome
do autor aparece grafado errado
na capa: Hermann Brock. E a tradução está assinada pelo próprio
Wilson Hilário Borges. "Eu só sei
o que está no livro: ele assinou a
tradução", diz Vera Lúcia.
Em julho, quando procurada
por e-mail por Alfredo Monte, ela
defendeu a "idoneidade" dos tradutores e considerou um sinal de
qualidade o fato de as traduções
serem tão parecidas com versões
portuguesas. Hoje, ela diz que, na
época, ainda desconhecia a possibilidade de plágio e que não recebeu muitas informações para poder investigar a história.
"Para mim, é muito difícil pensar que ele [Borges] possa ter feito
isso", diz Vera Lúcia. Quando ouvida sobre "Oblomov", ela afirmou estar disposta a corrigir os
eventuais erros. "Não é meu objetivo lesar ninguém. Se alguém foi
lesado, vamos buscar reparar."
No caso de "Oblomov", Borges
pôs o nome de sua filha Juliana
como tradutora. O texto é plágio
do feito pelo poeta mineiro Francisco Inácio Peixoto (1909-1986)
para as Edições O Cruzeiro em
1966. Juliana também aparece como tradutora nas edições de
"Chegada e Partida" e "Ladrões
na Noite", ambos do húngaro Arthur Koestler (1905-1983).
Em comum com "Oblomov", as
edições de "Mulheres Apaixonadas" e "Os Sonâmbulos" têm
muitos erros de revisão. Dentre as
poucas mudanças feitas nas traduções estão a troca das grafias de
palavras, como "protectora" e
"objectivo", escritas assim nas
versões portuguesas.
Trechos complexos servem como exemplos do plágio, pois dificilmente seriam escritos por dois
tradutores diferentes É o caso do
que está na página 563 da edição
da Germinal de "Mulheres Apaixonadas": "Aquele lugar evocava
uma panela pouco funda que jazesse entre neve e pedregulhos,
num mundo perto das nuvens.
Ali adormecera Gerald. Em volta
os guias tinham pregado estacas
de ferro, de maneira a poderem
içar-se com o auxílio de uma
comprida corda amarrada a elas;
assim atingiriam, para além dos
cimos denteados, a área de neve
endurecida, que se confundia
com o céu e onde se escondia Marienhutte, entre penhascos".
Um trecho da página 160 de "Os
Sonâmbulos" é um outro exemplo deste tipo: "Acudiu-lhe ao espírito uma frase de Clausewitz:
ninguém age senão por pressentimento e instinto da verdade. E,
num pressentimento, o coração
revelou-lhe que lhes seria concedida, num lar cristão, a ajuda salvadora e protetora da graça, para
que eles não tivessem de peregrinar sobre a terra ignorantes, desamparados e sem objetivos, a caminho do nada".
Texto Anterior: Mercado editorial: Dicionários terão mudança "substantiva" Próximo Texto: Saiba mais: Versão recente "capricha" no número de erros Índice
|