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"O filme está melhor que nunca", diz roteirista
RENATO CORRÊA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
David Webb Peoples, 67, ficou famoso quando pôs um fim
na disputa criativa entre o roteirista Hampton Fancher e o
diretor Ridley Scott, ao reescrever o roteiro de "Blade Runner", aprofundando personagens, criando belos diálogos e dando mais mistério à trama. O roteirista conversou com a Folha no início do mês, em seu escritório. Veja trechos a seguir.
FOLHA - "Blade Runner" inspirou
outros filmes, HQs, livros e músicas.
Por que virou um filme influente?
DAVID WEBB PEOPLES - "Blade
Runner" se tornou influente
graças a três visionários: Philip
K. Dick, Hampton Fancher e
Ridley Scott. Dick escreveu o
romance, que era visionário,
mas foi Fancher quem viu o potencial para a adaptação cinematográfica. E sem Ridley o filme não teria a influência que
tem. Foi a visão dele que deu
forma à coisa toda.
FOLHA - Quando fala da visão dele,
está se referindo à estética do filme?
PEOPLES - Não só à estética.
Perguntam por que pus o unicórnio [no filme] e não outro
animal. Não fui eu, foi Ridley. O
unicórnio está no roteiro porque ele pediu. Anos depois percebi que, com o unicórnio, Deckard poderia ser interpretado
como sendo um replicante. Ridley me deu crédito pela sugestão de que o protagonista poderia não ser humano, mas não
escrevi pensando nisso. Acho
que Hampton também não.
FOLHA - O sr. é humilde, sempre cita Ridley Scott, Hampton Fancher e
Philip K. Dick como os grandes nomes de "Blade Runner", e quase
nunca dá crédito a si mesmo.
PEOPLES - Não sou humilde. Só
acho que entendo o papel que
tive. Acho que fiz um excelente
trabalho. Mas, quando me contrataram para reescrever o roteiro, eu nem sabia por quê. Na
época, disse: "Não precisam me
contratar. Está perfeito". Daí
falaram que Ridley Scott não
estava satisfeito. Queriam que
eu reescrevesse o trabalho brilhante que Hampton tinha feito, e fiz o melhor que pude.
FOLHA - Na época, ameaçaram tirar o nome de Fancher dos créditos e
deixar só o seu. Você ficou famoso
por ter protegido o nome dele.
PEOPLES - Isso não aconteceu
como dizem. A questão não era
tirar Hampton dos créditos de
escritor porque ele não conseguia se entender com Scott,
mas porque ele apareceria também como produtor-executivo.
Era uma questão técnica e burocrática. Mas, por eu ter protegido Hampton, ele ficou feliz,
e nos tornamos amigos.
FOLHA - Verdade que só anos depois vocês descobriram que nenhum dos dois havia escrito a narração da primeira versão?
PEOPLES - Não foi tanto tempo
assim. Tínhamos acabado de
ver uma projeção de "Blade
Runner" e eu tinha gostado,
mas estava encabulado pelas
narrações. Hampton era e é um
grande amigo, e comecei a me
sentir mal por ele ter feito as
narrações, que eram muito
ruins. Foi um alívio descobrir
que ele não havia escrito aquilo.
E, engraçado, ele estava pensando o mesmo de mim [risos].
FOLHA - Para você, "Blade Runner"
está melhor ou pior após 25 anos?
PEOPLES - Para mim, é o mesmo. O interesse vem aumentando, e fico feliz que não tenha
feito sucesso em 1982 como outros que acabaram esquecidos.
Se o interesse das pessoas demonstra a qualidade, o filme está melhor que nunca.
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