São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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"O filme está melhor que nunca", diz roteirista

RENATO CORRÊA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

David Webb Peoples, 67, ficou famoso quando pôs um fim na disputa criativa entre o roteirista Hampton Fancher e o diretor Ridley Scott, ao reescrever o roteiro de "Blade Runner", aprofundando personagens, criando belos diálogos e dando mais mistério à trama. O roteirista conversou com a Folha no início do mês, em seu escritório. Veja trechos a seguir.  

FOLHA - "Blade Runner" inspirou outros filmes, HQs, livros e músicas. Por que virou um filme influente?
DAVID WEBB PEOPLES
- "Blade Runner" se tornou influente graças a três visionários: Philip K. Dick, Hampton Fancher e Ridley Scott. Dick escreveu o romance, que era visionário, mas foi Fancher quem viu o potencial para a adaptação cinematográfica. E sem Ridley o filme não teria a influência que tem. Foi a visão dele que deu forma à coisa toda.

FOLHA - Quando fala da visão dele, está se referindo à estética do filme?
PEOPLES
- Não só à estética. Perguntam por que pus o unicórnio [no filme] e não outro animal. Não fui eu, foi Ridley. O unicórnio está no roteiro porque ele pediu. Anos depois percebi que, com o unicórnio, Deckard poderia ser interpretado como sendo um replicante. Ridley me deu crédito pela sugestão de que o protagonista poderia não ser humano, mas não escrevi pensando nisso. Acho que Hampton também não.

FOLHA - O sr. é humilde, sempre cita Ridley Scott, Hampton Fancher e Philip K. Dick como os grandes nomes de "Blade Runner", e quase nunca dá crédito a si mesmo.
PEOPLES
- Não sou humilde. Só acho que entendo o papel que tive. Acho que fiz um excelente trabalho. Mas, quando me contrataram para reescrever o roteiro, eu nem sabia por quê. Na época, disse: "Não precisam me contratar. Está perfeito". Daí falaram que Ridley Scott não estava satisfeito. Queriam que eu reescrevesse o trabalho brilhante que Hampton tinha feito, e fiz o melhor que pude.

FOLHA - Na época, ameaçaram tirar o nome de Fancher dos créditos e deixar só o seu. Você ficou famoso por ter protegido o nome dele.
PEOPLES
- Isso não aconteceu como dizem. A questão não era tirar Hampton dos créditos de escritor porque ele não conseguia se entender com Scott, mas porque ele apareceria também como produtor-executivo. Era uma questão técnica e burocrática. Mas, por eu ter protegido Hampton, ele ficou feliz, e nos tornamos amigos.

FOLHA - Verdade que só anos depois vocês descobriram que nenhum dos dois havia escrito a narração da primeira versão?
PEOPLES
- Não foi tanto tempo assim. Tínhamos acabado de ver uma projeção de "Blade Runner" e eu tinha gostado, mas estava encabulado pelas narrações. Hampton era e é um grande amigo, e comecei a me sentir mal por ele ter feito as narrações, que eram muito ruins. Foi um alívio descobrir que ele não havia escrito aquilo. E, engraçado, ele estava pensando o mesmo de mim [risos].

FOLHA - Para você, "Blade Runner" está melhor ou pior após 25 anos?
PEOPLES
- Para mim, é o mesmo. O interesse vem aumentando, e fico feliz que não tenha feito sucesso em 1982 como outros que acabaram esquecidos. Se o interesse das pessoas demonstra a qualidade, o filme está melhor que nunca.


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