São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

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18ª SP FASHION WEEK

FIM DE SEMANA DE DESFILES CONSAGRA A MATURIDADE

Paulo Whitaker/Reuters
Na manhã ensolarada de ontem, a Neon mostra coleção oriental no teatro Oficina


ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Um fim de semana cheio na SPFW, em sua maior edição já vista. O evento profissional que lança 47 coleções de inverno 2005, virou programa de fim de semana e fez a cidade falar sobre moda.
Do extenso e extenuante line-up desses dias, destacam-se o profissionalismo e a maturidade da Huis Clos. Mesmo trabalhando com tecidos encorpados, Clô Orozco consegue leveza para as saias, coats e vestidos cheios de recortes e pences. Ainda no repertório anos 40 e 50, se livra de construções complicadas para criar peças desejáveis e de puro design.
Lino Villaventura foi outra boa surpresa. Abriu com o masculino, que mexeu em sua estética, com proporções mais soltas. Mas este pareceu desfile multimarca: cada peça parecia de um estilista, tinham pouca afinidade entre si. No feminino, uma bela reviravolta. Villaventura volta a criar uma moda desejável e... fashion. Acerta as proporções, em belas saias godês, com recortes de tecido criando "barbatanas" e inteligente textura, do início lavado e claro, passando pelos modernos vermelhos, chegando ao efeito phyton.
Também rolaram duas estréias: Érica Ikezilli e Neon. Sob chuva de papel picado colorido, lembrando pétalas, a estilista Érica Ikezilli estréia após participar do Amni Hot Spot. O desfile serve para confirmar sua vocação no trabalho de pregas e origamis coloridos, mas mostra um olhar ainda pesado para alfaiataria. Em sala menor e clima mais íntimo, os experimentalismos fariam mais sentido.
A Neon, marca de Dudu Bertholini e Rita Comparato, invadiu os domínios do teatro Oficina, mas faltou uma boa dose de ousadia. Originalmente dedicada ao beachwear, a Neon passeia agora numa viagem de várias etnias, do Oriente à África, de modo instigante, mas algo hermético. O bidimensional universo da marca, feito de turbantes, túnicas, capas maiôs, colãs, trouxe momentos de deleite fashion, só que deixou o público querendo mais.
Ao ingressar neste casting, é maior a cobrança, maiores as exigências. E até pelo espaço do Oficina, palco de transgressões, deu vontade de ver mais loucuras. Há belas imagens, como o quimono de Juliana Imai. Mas queremos mais roupas também. Em compensação: as plataformas e sapatos baixos deram certíssimo.
Nessa historinha étnica, a UMA progrediu, principalmente no início, na bermuda quimono cinza usada por Jéssica Pauletto e no interessante maxicolete de moletom vazado para a faixa tipo obi.
De Fause Haten queremos menos loucuras. A coleção com desenhos de megabaratas nas costas das peças e estampas de insetos compõem painel no mínimo desconfortável. Não deu certo o hi-low, e a "filha de Ginger Rogers" ficou com jeitão de Linda Blair.
Lorenzo Merlino foi prejudicado pelo adiantado da hora e pela baderna feita no pit por fotógrafos pouco profissionais, mas a verdade é que sua coleção é fraca. Os experimentalismos desta vez se perderam em problemas de desenho, volumes, proporções, materiais (pareciam pobres). Nem tudo o que é esquisito é moderno, muito menos bonito. E, ah, esse é de fato um momento ingrato para a moda conceitual. As mulheres querem se sentir bonitas, desejáveis e, no Brasil, gostosas.
O filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate" serve de ponto de partida para a V.Rom construir uma coleção que equilibra fashion e comercial. A cartela de cores é otimista e os exercícios de alfaiataria no esportivo dão supercerto. Destaques: os agasalhos de náilon com matelassê de rosas; as calças de plush e o look de couro fake marrom em Eduardo Braun.

Colaborou Jackson Araujo, editor-assistente da revista Moda
Érica Ikezilli:
Fause Haten:
UMA:
Huis Clos:
Lorenzo Merlino:
Neon:
V.Rom:
Lino Villaventura:


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