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EXPOSIÇÃO/CRÍTICA
Márcia X. explora possibilidades múltiplas do erotismo
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Exposições com caráter retrospectivo e logo após a
morte de um artista correm o risco de apresentar ar solene que,
muitas vezes, propicia uma visão
condolente. Não é o que ocorre na
mostra "Márcia X. Revista", em
cartaz no Paço Imperial, no Rio de
Janeiro, com curadoria de Claudia Saldanha e Ricardo Ventura.
A retrospectiva traça um percurso representativo de Márcia
X., artista que iniciou sua carreira
na década de 80 e morreu, aos 45
anos, no ano passado. Ao contrário do que se costuma afirmar da
chamada Geração 80, que teria na
pintura sua única expressão, a exposição no Paço demonstra que a
experimentação dos anos 70
manteve adeptos nos anos 80, e a
artista desponta como das mais
radicais desse grupo.
Márcia X. transitou pela instalação, escultura e videoarte, mas é
na performance que sua presença
se torna mais significativa.
Performance é sinônimo de
uma ação do corpo do artista, ou
uma ação delegada a outro corpo,
e são justamente diversas leituras
do corpo que dão uma linha bastante clara na carreira de Márcia,
vista não só em objetos como
também em vídeos.
A primeira obra da mostra,
"Soap Opera", de 1988, uma
imensa parede construída com
sabão, apresenta já vários dos elementos que marcam a obra da artista. Primeiro, a constante ironia
nos títulos. "Soap Opera", em inglês, corresponde às nossas novelas e o trocadilho barato se estenderá por muitos outros trabalhos.
Nessa operação, Márcia X. alcança uma comunicação direta com
o público, algo que a arte contemporânea muitas vezes não consegue, e numa forma de apropriação muito próxima do que Marcel
Duchamp realizava.
Para a artista, o mundo era seu
ateliê, como chegou a afirmar certa vez: "Comprar materiais no
Saara [área de comércio popular
no centro do Rio] para fazer esculturas, instalações e performances significa me apropriar de aspectos simbólicos destes materiais, combinando objetos, imagens e idéias deste universo, associando meu imaginário a elementos do imaginário social relativo a
sexo, religião, infância, morte,
masculino e feminino".
Sexo é, de fato, o elemento dominante em sua obra -e na mostra. Na instalação "Os Kaminha
Sutrinhas", a artista se utiliza de
bonecos de brinquedo para construir várias posições sexuais. Assim ocorre uma inversão: o assexuado brinquedo infantil se torna
manual de sexo. Bonecos militares enfileirados parecem participar de uma orgia, papais-noéis
encenam "Papai-Papai".
Esse erotismo exacerbado tem
grande vinculação às performances de Márcia X., afinal, ambos
são ações do corpo. Quando cada
vez mais corpo e sexo se tornam
objeto de culto, o conjunto da
obra da artista parece se revestir
de uma ingenuidade infantil que,
em vez de banalizar esse tema,
aponta para suas múltiplas possibilidades. Sem preconceito.
Márcia X. Revista
Onde: Paço Imperial (praça 15 de
Novembro, 48, centro, RJ, tel.
0/xx/21/2533-4491)
Quando: de ter. a dom., das 12h às 18h; até 29/1
Quanto: entrada franca
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