São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 2006

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TV PAGA

Barreto faz amontoado sobre Garrincha

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil é o país do futebol, mas não é o país dos estudos, dos filmes, dos livros e das músicas sobre futebol. Pode-se tentar uma saída poética ao dizer que a arte brasileira fala por si entre as quatro linhas do gramado com mais eloqüência do que no celulóide, nas pautas musicais e no papel.
Mas talvez a academia e as artes brasileiras ignorem o futebol por ser o esporte dos simples, desprezando o chavão de que a genialidade reside neles.
Manuel Francisco dos Santos morreu há 23 anos, completados na semana passada. Morreu jovem (50 anos), pobre e alcoólatra. Seria mais um dos brasileiros simples, cuja morte os jornais não registram, se não fosse um gênio.
Manuel Francisco dos Santos é Garrincha, o jogador que começou a carreira tardiamente aos 20 anos e contrariou os médicos ao ser craque com as pernas tortas. Era um simples para quem o marcador, qualquer um, era João, e o time adversário, qualquer que fosse, o São Cristóvão.
"Mané Garrincha" (1978), o segundo curta-metragem de Fábio Barreto, que o Canal Brasil exibe hoje, seria bom, se fosse simples, mas é simplório. Rodado cinco anos depois de Garrincha ter tido seu jogo de despedida e cinco antes de sua morte poderia ser um retrato do artista quando não mais jovem.
Seria covardia comparar o curta de Barreto com o longa de Joaquim Pedro de Andrade, "Garrincha, Alegria do Povo". O filme de Joaquim Pedro é hiperbólico, mas feito com paixão a quente -foi concluído em 62.
O de Barreto é um amontoado de imagens, das quais só fica a simplicidade de Garrincha, dizendo que queria começar naquele ano (78) uma carreira de técnico, "porque os meninos e o Brasil precisam disso". Os simples não são ingênuos. Garrincha estava certo. Os meninos e o Brasil precisávamos dele. Não soubemos tê-lo nem mantê-lo.
Mané Garrincha Quando: hoje, às 14h14, no Canal Brasil

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