São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2000


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MODA MILÃO

Gucci faz tradução literal de status e luxo

Reuters
Casaco de atitude hollywoodiana, de Tom Ford para Gucci


ERIKA PALOMINO
enviada especial a Milão

Haja dinheiro para alimentar o gosto pelo luxo do prêt-à-porter internacional. Milão celebra o culto à riqueza na sua temporada de outono-inverno 2000, que termina no fim-de-semana.
Gucci, por exemplo, vestiu-se de dourado e peles para a estação. A marca desenhada por Tom Ford desfilou anteontem à noite, cheia de ostentação. Trata-se de puro status "jogado na cara", um glamour quase novo-rico, em que seus elementos ganham leitura literal, às vezes previsível.
Mais grave: foi impossível não comparar com o impecável "chic-ismo" da Prada, que, mesmo olhando mais para o passado, acertou nas necessidades e vontades da mulher contemporânea (segundo os jornais, a estilista Miuccia Prada disse que "não sabia" que o que estava fazendo era anos 40 até seu marido dizer, com a coleção pronta).
Bem, o inverno Gucci 2000 não chega a ser uma revolução (como a coleção das calças coloridas e bordadas), com os detalhes de motoqueiros nas peças de alto luxo. O uso do couro feito tecido, sim, adoça o olhar e aguça os sentidos. Em babados e em peças como a jaqueta chemise, de efeito blusê, dá vontade de tocar -e ter.
O mesmo vale para os deliciosos casacos em ziguezague (atenção para a nova padronagem tendência), em preto e branco, ou em bege e marrom, de hollywoodiana atitude e comprimento pouco acima do joelho.
Os vestidos dourados, fluidos, pelo meio da coxa e de manga comprida, em lurex dourado, também deverão atingir as "fashion victims" mais abastadas e serão usados com sandálias também douradas. Com edição confusa e o duvidoso look de bandana, o desfile tem, entretanto, ótimas peças. Principalmente quando Ford se volta para as formas clássicas, como no mantô desfilado por Ana Claudia, de cor bege, com falsa pelerine e cintão largo, com o "G" gigante que, agora sim, nos transporta ao universo de sofisticação e sexo representado pela marca.
Na máquina do tempo do "planeta fashion" (leia texto nesta página) somos levados aos anos 20, com o ítalo-inglês Antonio Berardi. Atmosfera decorativa, profusão de cores e, sobretudo, o trabalho da silhueta com a cintura baixa que a década celebrizou (cabelo de ondinhas e "make" dramático vêm no pacote).
Gisele Bündchen abriu o desfile, que começou às 22h30 da segunda-feira, numa capa cor de pistache e pantalona. Grandes bordados de flores ornavam ricamente o terninho justo de cetim branco de Erin O'Connor. Plissados de seda emprestaram novo desenho à camisa de listras em "V" ao contrário. Mangas-morcego nas vestes completavam o clima barroco.
Se tudo isso já foi um pouco visto, não foi por Berardi, que mostra evolução, mas se perde um pouco no final, com os jérseis drapeados e os vestidos com transparências na renda, grandes arranjos cobrindo a parte de trás (a seminudez da última modelo foi bem ousada para os padrões dos desfiles em Milão e criou até certo constrangimento no público).
Max Mara e sua segunda linha, a SportMax, desfilaram na terça-feira. A primeira trouxe uma versão levada a sério do novo culto ao clássico, também com um pezinho nos 40, com força total no tweed. Sobriedade é a palavra e ninguém aqui quer ser moderno.
Já na Sportmax, cabelos mais despenteados e trilha sonora rock tentam chegar na consumidora mais jovem da marca, mas ficam com cara de disfarce. Com exceção das jaquetas de lã, que fazem o "crossover" informal/com qualidade/caro, a marca fica sem consumidora definida.


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