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"O QUE AS MULHERES QUEREM?"
Autora, que criou ícone feminista, hoje está datada
MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Pode-se dizer que Erica Jong,
59, é uma feminista americana deslumbrada com a descoberta -nas aulas de "creative writing" (escrita criativa) do Barnard
College- de que poderia enveredar pela carreira de poeta e ficcionista.
"Deslumbrada", esse o melhor
adjetivo para descrevê-la e a sua
trajetória nas letras. Sempre fez
mais estardalhaço como feminista do que como ficcionista ou
poeta. Sua prosa está mais próxima do gênero auto-ajuda feminista do que da literatura de ficção.
Quando publicou seu primeiro
livro, a coletânea de poemas
"Fruits and Vegetables", em 1971,
fez de tudo para ser identificada
como a nova Sylvia Plath (1932-1963) da poesia americana. Mas
seu texto auto-referente e aborrecidamente metalinguístico nunca
chegaria perto desse patamar.
Publicou mais duas coletâneas
de poesia e passou a escrever prosa de ficção, "porque a ficção pode conter sátira e comentário social e, ainda por cima, contar histórias". Nessa frase se resume sua
concepção de literatura, uma mistura de panfleto com sátira e certa
dose de invenção.
Seu primeiro romance, "Medo
de Voar", saiu em 1973 e virou
best seller instantâneo, pegando
em cheio as militantes feministas
americanas com seu discurso sarcástico sobre sexo e a então "guerra dos sexos", que já se esboçara
na poesia.
Seu trunfo era "falar abertamente sobre sexo", escrever com
todas as letras a palavra "fuck",
que só Henry Miller ou outros escritores homens tinham escrito
até então -com a diferença, não
percebida por ela, de que eles faziam boa literatura. E Jong queria
simular cópulas na página concreta do poema, quer dizer: "Introduzir o pênis dentro do poema"; e, então, "a poeta se senta reta sobre ele e vai erguendo e abaixando o corpo ritmicamente até o
último verso ser alcançado...".
Essa mistura de emancipação
feminina com poesia é o que Jong
pretendia com "Medo de Voar".
Ali surge a heroína Isadora Wing,
uma aspirante a escritora que luta
para se afirmar como profissional
e mulher no mundo dos homens.
A mesma personagem povoaria
os três romances seguintes de Erica Jong, transformando-se numa
espécie de ícone feminista, a voz
autobiográfica da escritora que
confessava escrever para outras
mulheres, as desavisadas feministas sem rumo da década de 70.
As idéias de Erica Jong só não
são consideradas anacrônicas hoje por um certo gueto de feministas de sua geração. A leitura de "O
Que as Mulheres Querem", esse
apanhado dos pensamentos da
autora sobre a condição feminina,
requer reserva, portanto, e deve
ser feita com as ressalvas devidas
aos textos datados.
O Que as Mulheres Querem?
(What Do Women Want?)
Autora: Erica Jong
Editora: Record
Quanto: R$ 28 (272 págs.)
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