São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O QUE AS MULHERES QUEREM?"

Autora, que criou ícone feminista, hoje está datada

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Pode-se dizer que Erica Jong, 59, é uma feminista americana deslumbrada com a descoberta -nas aulas de "creative writing" (escrita criativa) do Barnard College- de que poderia enveredar pela carreira de poeta e ficcionista.
"Deslumbrada", esse o melhor adjetivo para descrevê-la e a sua trajetória nas letras. Sempre fez mais estardalhaço como feminista do que como ficcionista ou poeta. Sua prosa está mais próxima do gênero auto-ajuda feminista do que da literatura de ficção.
Quando publicou seu primeiro livro, a coletânea de poemas "Fruits and Vegetables", em 1971, fez de tudo para ser identificada como a nova Sylvia Plath (1932-1963) da poesia americana. Mas seu texto auto-referente e aborrecidamente metalinguístico nunca chegaria perto desse patamar.
Publicou mais duas coletâneas de poesia e passou a escrever prosa de ficção, "porque a ficção pode conter sátira e comentário social e, ainda por cima, contar histórias". Nessa frase se resume sua concepção de literatura, uma mistura de panfleto com sátira e certa dose de invenção.
Seu primeiro romance, "Medo de Voar", saiu em 1973 e virou best seller instantâneo, pegando em cheio as militantes feministas americanas com seu discurso sarcástico sobre sexo e a então "guerra dos sexos", que já se esboçara na poesia.
Seu trunfo era "falar abertamente sobre sexo", escrever com todas as letras a palavra "fuck", que só Henry Miller ou outros escritores homens tinham escrito até então -com a diferença, não percebida por ela, de que eles faziam boa literatura. E Jong queria simular cópulas na página concreta do poema, quer dizer: "Introduzir o pênis dentro do poema"; e, então, "a poeta se senta reta sobre ele e vai erguendo e abaixando o corpo ritmicamente até o último verso ser alcançado...".
Essa mistura de emancipação feminina com poesia é o que Jong pretendia com "Medo de Voar". Ali surge a heroína Isadora Wing, uma aspirante a escritora que luta para se afirmar como profissional e mulher no mundo dos homens.
A mesma personagem povoaria os três romances seguintes de Erica Jong, transformando-se numa espécie de ícone feminista, a voz autobiográfica da escritora que confessava escrever para outras mulheres, as desavisadas feministas sem rumo da década de 70.
As idéias de Erica Jong só não são consideradas anacrônicas hoje por um certo gueto de feministas de sua geração. A leitura de "O Que as Mulheres Querem", esse apanhado dos pensamentos da autora sobre a condição feminina, requer reserva, portanto, e deve ser feita com as ressalvas devidas aos textos datados.
O Que as Mulheres Querem? (What Do Women Want?)    Autora: Erica Jong Editora: Record Quanto: R$ 28 (272 págs.)

Texto Anterior: O que querem as mulheres ?
Próximo Texto: Jong planeja ficção na Grécia e férias no Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.