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CRÍTICA
Livro faz escândalo com a tragédia alheia
MARCOS GUTERMAN
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO
O escritor Primo Levi descreveu o pior pesadelo para
um sobrevivente do Holocausto
como ele: tentar relatar o que
ocorreu e ninguém acreditar. A
ausência quase completa de documentos específicos do genocídio, grande parte deles destruída
pelos nazistas para tentar apagar
o episódio da história, é a base da
negação do Holocausto e um dos
trunfos de "A Indústria do Holocausto", de Norman Finkelstein.
A título de "reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus", o autor constrói seu ensaio
sobre três pilares de argumentação: 1) o Holocausto só passou a
ser importante para os EUA e os
dirigentes judeus norte-americanos quando foi preciso arranjar
uma desculpa para a manutenção
de um Estado israelense belicoso
e agressor, ponta-de-lança de
Washington no Oriente Médio; 2)
o Holocausto é usado pelos líderes judeus como a prova definitiva da singularidade (e da superioridade) do judaísmo; e 3) o Holocausto tornou-se um poderoso
instrumento para que esses mesmos líderes pudessem extorquir
bilhões de dólares de bancos, governos e empresas, muitas vezes
por meio de fraude.
Como base de justificativa, Finkelstein usa interpretação enviesada de fontes de segunda mão,
retórica libelista e impressões pessoais que, no mais das vezes, servem para atacar antigos desafetos,
principalmente o Prêmio Nobel
da Paz Elie Wiesel, espécie de porta-voz dos sobreviventes.
Finkelstein tenta mostrar que
sobreviventes em posição privilegiada na comunidade judaica
norte-americana, como Wiesel,
construíram um retrato amplificado de seu sofrimento e fizeram
dele a versão mais difundida da
tragédia, por meio de um implacável lobby.
O objetivo dessa estratégia, sugere o autor, era criar um sentimento de culpa em escala mundial e, a partir daí, colocar os judeus na posição de vítima preferencial, senão a única, da mais
pérfida máquina de destruição de
que se tem notícia, dando a eles
lucro moral e pecuniário proporcional à dimensão do massacre.
Finkelstein argumenta que esses sobreviventes abusam do conforto criado pela convicção de
que, afinal de contas, um sobrevivente não seria capaz de mentir.
Como as provas concretas de parte a parte são escassas, fica a palavra de Finkelstein, que nasceu em
Nova York oito anos depois do
fim da guerra, contra a de Wiesel,
que passou pelos campos de
Auschwitz e Buchenwald.
Se se limitasse a tentar dissecar a
instrumentalização do discurso
do Holocausto, Finkelstein teria
dado alguma contribuição à discussão do episódio, embora outros estudiosos, com credenciais
bem melhores que as dele, já estejam fazendo isso há tempos.
Ele preferiu, porém, o caminho
do escândalo, facilitando o trabalho de seus detratores, para quem
Finkelstein é um anti-sionista de
poucos recursos acadêmicos, que
brande sua condição de judeu, filho de sobreviventes do Holocausto, como um salvo-conduto
para defender teses absurdas sobre o genocídio.
A Indústria do Holocausto
Autor: Norman Finkelstein
Tradutor: Vera Gertel
Editora: Record
Quanto: R$ 20 (156 págs.)
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