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Inglês funde imaginário e real em narrativa pop
Geoff Dyer conta histórias de viagens em "Ioga para Quem Não Está Nem Aí"
Livro alterna autocrítica debochada, descrições pungentes e um pouco de ficção ao contar vivências do autor ao redor do mundo
RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para começo de conversa:
"Ioga para Quem Não Está
Nem Aí" (Companhia das Letras) não é um livro de auto-ajuda, embora o título teime
em parecer que sim. Quem seguir à risca os preceitos do autor corre o risco de encher a cara de cogumelos em Amsterdã
ou de achar por bem ignorar as
lamúrias de uma criança impertinente no Camboja.
Também não se trata de um
guia de viagem, apesar de contar vivências do escritor britânico Geoff Dyer, 48, em vários
cantos do mundo. A bem da
verdade, não dá para dizer nem
se é ficção ou não-ficção. Pela
descrição do autor, está mais
para história de pescador: a base é verdadeira, o resto é liberdade criativa.
"São narrativas que estão, digamos, a alguns centímetros de
fatos que vivenciei. O importante é que não se enxergue essa costura entre o real e o imaginário", diz Dyer por telefone,
de Londres, à Folha, pouco antes de embarcar para Mumbai,
na Índia, onde acompanharia
um festival literário.
Escritos a partir de viagens
que fez por lazer ou a trabalho
(Dyer é colaborador de jornais
e revistas como "Guardian",
"Independent" e "Esquire"), os
11 capítulos assumem forma de
contos levemente interligados.
O narrador alterna um humor blasé com observações
pertinentes e descrições pungentes sobre localidades como
Nova Orleans, Roma e Leptis
Magna, na Líbia.
"Foi em Roma que nasceu a
idéia de escrever o livro, mas,
originalmente, ele seria algo
sobre Antigüidade ou ruínas.
Só começou a tomar forma
quando percebi que poderia ligar esse meu interesse a uma
idéia maior de que talvez eu
também estivesse em ruínas.
Então eu encontrei o tom apropriado", diz o autor.
Está certo que as ruínas pessoais estão mais para uma autocrítica debochada do que para algum drama existencial.
Dyer é capaz, por exemplo, de
passar páginas e páginas se
sentindo um tiozinho incompetente por não conseguir maconha num festival de música
que está cobrindo em Detroit.
Em outra ocasião, sente-se
sufocado com o art déco que o
cerca num distrito de Miami e,
após ver o corpo de uma mulher que se atirou do 14º andar
de um prédio, descobre que isso "acontece a toda hora" por
ali. Por causa do calor, que
"enlouquece as pessoas". Deduz que a culpa, na verdade, é
do "desespero do art déco".
Essa superficialidade está
embutida no nome do livro.
"Hoje em dia, todos querem
adquirir a sabedoria do Oriente, mas sem ter de passar por
anos e anos de meditação. Queremos é ganhar sabedoria de
Natal. Aprender ioga sem fazer
esforço tem a ver com essa
mentalidade contemporânea."
Jazz e fotografia
Lançado em 2003, "Ioga para
Quem Não Está Nem Aí" é o
primeiro livro de Dyer publicado no Brasil. Um de seus primeiros trabalhos, "But Beautiful" (1991), sobre jazz, ganhou o
Prêmio Somerset Maugham,
dado a jovens autores na Inglaterra. A obra foi comparada pela revista britânica "New Statesman" a "Febre de Bola", de
Nick Hornby. Atualmente,
Dyer vem recebendo elogios
por "The Ongoing Moment"
(2005), uma história subjetiva
da fotografia.
IOGA PARA QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ
Autor: Geoff Dyer
Tradução: Sergio Flaksman
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 41 (232 pág.)
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