São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

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Inglês funde imaginário e real em narrativa pop

Geoff Dyer conta histórias de viagens em "Ioga para Quem Não Está Nem Aí"

Livro alterna autocrítica debochada, descrições pungentes e um pouco de ficção ao contar vivências do autor ao redor do mundo


RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para começo de conversa: "Ioga para Quem Não Está Nem Aí" (Companhia das Letras) não é um livro de auto-ajuda, embora o título teime em parecer que sim. Quem seguir à risca os preceitos do autor corre o risco de encher a cara de cogumelos em Amsterdã ou de achar por bem ignorar as lamúrias de uma criança impertinente no Camboja.
Também não se trata de um guia de viagem, apesar de contar vivências do escritor britânico Geoff Dyer, 48, em vários cantos do mundo. A bem da verdade, não dá para dizer nem se é ficção ou não-ficção. Pela descrição do autor, está mais para história de pescador: a base é verdadeira, o resto é liberdade criativa.
"São narrativas que estão, digamos, a alguns centímetros de fatos que vivenciei. O importante é que não se enxergue essa costura entre o real e o imaginário", diz Dyer por telefone, de Londres, à Folha, pouco antes de embarcar para Mumbai, na Índia, onde acompanharia um festival literário.
Escritos a partir de viagens que fez por lazer ou a trabalho (Dyer é colaborador de jornais e revistas como "Guardian", "Independent" e "Esquire"), os 11 capítulos assumem forma de contos levemente interligados. O narrador alterna um humor blasé com observações pertinentes e descrições pungentes sobre localidades como Nova Orleans, Roma e Leptis Magna, na Líbia.
"Foi em Roma que nasceu a idéia de escrever o livro, mas, originalmente, ele seria algo sobre Antigüidade ou ruínas.
Só começou a tomar forma quando percebi que poderia ligar esse meu interesse a uma idéia maior de que talvez eu também estivesse em ruínas. Então eu encontrei o tom apropriado", diz o autor. Está certo que as ruínas pessoais estão mais para uma autocrítica debochada do que para algum drama existencial.
Dyer é capaz, por exemplo, de passar páginas e páginas se sentindo um tiozinho incompetente por não conseguir maconha num festival de música que está cobrindo em Detroit.
Em outra ocasião, sente-se sufocado com o art déco que o cerca num distrito de Miami e, após ver o corpo de uma mulher que se atirou do 14º andar de um prédio, descobre que isso "acontece a toda hora" por ali. Por causa do calor, que "enlouquece as pessoas". Deduz que a culpa, na verdade, é do "desespero do art déco".
Essa superficialidade está embutida no nome do livro. "Hoje em dia, todos querem adquirir a sabedoria do Oriente, mas sem ter de passar por anos e anos de meditação. Queremos é ganhar sabedoria de Natal. Aprender ioga sem fazer esforço tem a ver com essa mentalidade contemporânea."

Jazz e fotografia
Lançado em 2003, "Ioga para Quem Não Está Nem Aí" é o primeiro livro de Dyer publicado no Brasil. Um de seus primeiros trabalhos, "But Beautiful" (1991), sobre jazz, ganhou o Prêmio Somerset Maugham, dado a jovens autores na Inglaterra. A obra foi comparada pela revista britânica "New Statesman" a "Febre de Bola", de Nick Hornby. Atualmente, Dyer vem recebendo elogios por "The Ongoing Moment" (2005), uma história subjetiva da fotografia.


IOGA PARA QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ
Autor:
Geoff Dyer
Tradução: Sergio Flaksman
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 41 (232 pág.)

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