MARCO AURÉLIO CANÔNICO
EDITOR DO FOLHATEEN

É sabido que "O Incrível Hulk", que chega agora em DVD duplo, foi o patinho feio da Marvel em 2008. Seu protagonista (Edward Norton) brigou com o diretor (Louis Leterrier), e sua recepção pelo público e pela crítica foi bem inferior a do "Homem de Ferro", o filme que marcou o lançamento da editora de HQs como estúdio de cinema.
O DVD duplo, no entanto, dá novo alento ao filme graças ao disco de extras, que vai interessar a três grupos: o dos que querem ver mais sobre as filmagens no Rio (onde se passa a meia hora inicial), o dos fãs de efeitos especiais (que são numerosos e bem destrinchados aqui) e o dos que querem entender melhor as desavenças entre Norton e Leterrier devido ao rumo que a obra tomou.
O ator, famoso por palpitar nos roteiros, queria puxar a brasa para sua sardinha, fazendo um filme mais focado na luta interna de Bruce Banner, o cientista que, após acidente com um experimento, transforma-se no gigante esmeralda. Um exemplo de sua vontade está na abertura originalmente filmada, que consta dos extras.
Nela, um Banner culpado por ter ferido involuntariamente sua namorada foge para uma região polar para se suicidar. A sequência foi cortada por ser "muito sombria", na opinião dos produtores e do diretor.
Nas cenas deletadas, há diversas rodadas no Rio. A parte brasileira do filme, que tem menos ação e mais foco na apresentação do protagonista, poderia ter sido ainda mais longa, portanto -e o próprio Leterrier diz que gostaria de ter filmado mais coisas no Brasil, mas foi impedido pela chuva e pelo cronograma apertado.
Mas a Marvel, ressabiada pelo fiasco do "Hulk" (2003) de Ang Lee, queria menos introspecção e mais porrada, e foi isso que Leterrier entregou, com toneladas de efeitos especiais. Os extras mostram em detalhes como foram criados os dois monstros (Hulk e seu inimigo, o Abominável). As transformações (de Banner em Hulk e de Emil Blonsky em Abominável), que são momentos-chave para os fãs, também aparecem esmiuçadas nos extras. Há ainda um longo making of, estranhamente patrocinado por uma empresa de automóveis, em que o maior destaque é o tom autodepreciativo com que Tim Roth e William Hurt falam sobre suas "atuações", que se resumem, basicamente, a correr, pular e gritar.