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Portenhos trazem seu "tango punk" ao Brasil
Os argentinos da Fernandez Fierro se apresentam em Brasília e em São Paulo
No espetáculo "El Hambre Orquesta", músicos que misturam tango à cultura rock mostram o repertório do álbum "Mucha Mierda"
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Eles venceram os clichês do
tango sem renunciar ao formato acústico das orquestras tradicionais do gênero, pela atitude roqueira e com uma estética
que foge do cânone tangueiro.
Os argentinos da Orquesta
Típica Fernandez Fierro chegam ao Brasil nesta semana para apresentações em Brasília,
quinta-feira no Teatro da Caixa, e em São Paulo, de sexta a
domingo, no Auditório Ibirapuera. Na capital paulista, tocam pelo terceiro ano consecutivo, levando desta vez uma
banda convidada -os folk rockers do Arbolito- e a tradição
de casa cheia. No show "El
Hambre Orquesta", mostram o
repertório do seu terceiro e último álbum, "Mucha Mierda"
(2006), e temas do próximo
disco, a ser gravado em maio.
Com os 12 integrantes na faixa dos 30 anos, a Fernandez
Fierro conseguiu criar um vínculo com sua geração, algo incomum nas orquestras tradicionais. Cabelos compridos,
dreadlocks, sonoridade áspera
e performance intensa foram
parte da alternativa que o grupo criou ao "tango souvenir"
dos shows portenhos.
"Talvez estejamos fazendo
algo mais real, sem
nos fantasiarmos
para tocar e sem
buscarmos clichês
turísticos que nos
identifiquem com o
passado", diz Flavio
"El Ministro" Reggiani, 32.
Da personalidade
própria e da empatia com o público da
cultura rock veio a
etiqueta "tango
punk" para classificar a orquestra. Rótulo que às vezes se
sobrepõe à própria
música do grupo.
"Isso pode não ser
culpa nossa, mas em
grande parte do tango, que muitas vezes
mostra uma espécie
de cartão postal que
já não existe", afirma Reggiani.
Formada em 2001, a Fernandez Fierro começou com apresentações na tradicional feira
de San Telmo, em Buenos Aires. Hoje tem seu próprio "bunker" no bairro portenho de Almagro, o Clube Atlético Fernandez Fierro, antiga oficina
mecânica que lota todas as
quartas para os
shows da orquestra.
O fato é que a
Fierro movimentou
a cena tangueira de
Buenos Aires.
Egressos do grupo
montaram novos
conjuntos, uma
cooperativa de orquestras típicas se
formou. "Antes os
músicos se formavam em conservatório, tocavam 15
anos em casa e aí
saiam a tocar. Começamos com a filosofia mais punk
do "não sei tocar,
mas quero e vou'",
afirma Yuri Venturín, 34, contrabaixista e diretor musical da orquestra.
No altar da Fernandez Fierro há velas para
compositores clássicos do tango, como Francisco Pracánico
(1898-1971) e Celedonio Flores
(1896-1947), de quem tocam
"Corrientes y Esmeralda". Mas
sempre com arranjos originais
para não emoldurar os mestres.
No show, o irreverente crooner Walter "El Chino" Laborde,
36, interpreta três tangos de Alfredo "Tape" Rubín, da safra de
novos compositores portenhos, uma versão para "Larga
Noche", da folclorista peruana
Isabel "Chabuca" Granda
(1920-1983), e "Azucena Alcoba", do diretor Venturín.
Também está prevista uma
jam com os convidados do Arbolito. A banda de folk rock
mostra canções de seu último
álbum, "Cuando Saiga el Sol"
(2007), que marcou a saída da
banda do circuito independente após uma década de carreira.
ORQUESTA TÍPICA FERNANDEZ FIERRO
Quando: sex. e sáb., às 21h,
e dom., às 19h
Onde: Auditório Ibirapuera (av. Pedro
Álvares Cabral, s/nº, pq. Ibirapuera,
portão 2, tel. 0/xx/11/3629-1075)
Quanto: R$ 15 e R$ 30
Classificação: livre
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