São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2000


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Zen, Lou Reed lança 20º CD


Divulgação
O cantor Lou Reed, que está lançando "Ecstasy", seu 20º disco



Em nova fase, o cantor fala à Folha sobre seu novo disco, "Ecstasy", que não tem nada a ver com a droga, e sobre o livro "Pass thru Fire", com suas letras


ANDRÉ BARCINSKI
Editor do Folhateen

A primeira surpresa que se tem ao entrar no escritório de Lou Reed é ver a arrumação impecável do lugar. Parece mais uma agência de publicidade do que a casa do homem que, há mais de 30 anos, canta sobre a sordidez humana, os degenerados, o lado "gauche" da vida. Reed, afinal, é o maior poeta urbano do rock, o cara que transformou a sujeira das ruas de Nova York em algumas das letras mais lindas já escritas.
Mas lá está ele, bem-humorado (surpresa!), brincando com sua cadelinha, Lola. Nas paredes do escritório, polaróides de uma vida agitada: numa, Reed aparece ao lado de Iggy Pop, antigo companheiro de baladas. Discos de ouro estão espalhados por todo canto. Curiosidade: todos recebidos nos últimos dez anos, quando a música que Lou Reed gravou com o Velvet Underground, no fim dos anos 60, se tornou popular.
Lou Reed está lançando um novo disco, o 20º de sua carreira, sem contar uns dez LPs com o Velvet, entre discos oficiais, coletâneas e gravações ao vivo.
O nome da bolacha dá uma boa idéia da fase "zen" por que passa Reed: "Ecstasy". "Não tem nada a ver com a droga", apressa-se em dizer. "É êxtase de felicidade mesmo." Aos 58 anos, Reed parece ter finalmente sossegado.
Vive um romance duradouro com a compositora e artista multimídia Laurie Anderson e passou os últimos meses atarefado com a gravação do disco e com o lançamento de "Pass thru Fire", livro em que reúne todas as letras que escreveu nos últimos 33 anos.
Vestido de preto da cabeça aos pés, como sempre, Lou Reed concedeu entrevista à Folha, na qual falou de seu novo disco, de sua paixão por Nova York e de seu processo de criação musical.

Folha - Suas letras são quase todas biográficas e falam de pessoas e lugares que você conheceu. Como é organizar um livro como "Pass thru Fire", em que você revisita todas as letras que escreveu? Penso que deve ser como folhear um velho álbum de fotografias, um diário...
Lou Reed -
É mais ou menos isso. Mas não é difícil para mim, porque consigo separar bem minha vida da minha música.

Folha - Mas não é doloroso cantar sobre alguma pessoa ou lugar que já não existe mais?
Reed -
Não. As pessoas levam rock'n'roll a sério demais. É tudo uma performance, como num circo. Eu estou em cima de um palco representando um papel, atuando. É lógico que as letras me trazem lembranças, mas não me afetam mais como na época em que eu as escrevi. A maior dificuldade foi lembrar de algumas das letras, porque às vezes nem eu mesmo conseguia lembrar do que eu estava cantando.

Folha - Como assim?
Reed -
Bom, em "Shooting Star" (música do álbum "Street Hassle", de 1978), por exemplo, eu não conseguia me lembrar da letra de jeito nenhum. Ouvi o disco dezenas de vezes, pedi para vários amigos ouvirem, e havia trechos em que ninguém entendia nada. Eu às vezes escrevia uma letra mas, quando chegava na hora de gravar, resolvia improvisar e cantava outra coisa. Nas primeiras músicas do Velvet isso acontecia toda hora.

Folha - Quer dizer que você não é um compositor muito disciplinado?
Reed -
Depende do seu conceito de disciplina. Eu acho que trabalho e me esforço até demais, mas tem muita gente que me considera um grande preguiçoso.


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