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RELÂMPAGOS
A sopa
JOÃO GILBERTO NOLL
Um dia por semana ela tomava a sopa dos pobres. Esperava na longa fila. Quando
a concha entornava o caldo
de legumes, se sentia grato
de uma forma desconhecida. Como se precisasse se
prostrar no chão do dispensário. Espécie de rito extraviado de sua origem, de seu
possível sentido dramático,
de tudo perfeitamente natural aquele padecimento
branco, sem laceração.
Aquele contato frio na laje
dura. Assim deveria ter sido
antes do conforto acolchoado e anestesiante de agora.
Nesses momentos, era levado a expelir um pouco do soro de sua temperança.
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