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TELEVISÃO
Guel reinventa Brasil com talento
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Guel Arraes é Guel Arraes, mas
depois das topadas nas muralhas,
contar 500 anos nos dedos há
muito deixou de ser diversão. Melhor assim. Já nos primeiros instantes de "A Invenção do Brasil",
notou-se que, assunto à parte, a
conversa já era inteiramente outra. E Guel Arraes -que delícia!- é Guel Arraes.
Já se tinha a informação de que
Selton Mello seria Caramuru, "filho do fogo, sobrinho do trovão"
na marchinha de um Carnaval
distante e que Camila Pitanga seria Paraguassu. Informação que
pouco estimulava. Daí o acerto de
se colocar o Marco Nanini, de terninhos que C. Chanel cobiçaria,
contando a chegada dos portugueses ao paraíso e os assombros
dos tupiniquins. Marco Nanini
não usa apenas roupinhas cobiçáveis, é visto à distância caminhando por uma Lisboa de incrível beleza num desenho que seria
de época. Vistas de Lisboa são cobiçadas pela variedade de suas
belezas, mas o mapa em questão
desperta todo amor a Portugal.
Muito antes de virar Caramuru, Selton Mello era pintor com
Michelangelo e outros na inspiração. Em 1498, a descoberta do caminho das Índias é comparada à
chegada do homem à Lua. Será
por uma incontrolável vontade
de humor? Dizer que a torcida do
Vasco aclamou o navegador é
muito engraçado. Afinal, foi o
Vasco quem trouxe sabor e assanhamento para todo mundo com
seu carregamento de pimenta.
Tantas viagens estonteantes colocaram os mapas na moda.
"Eram segredo de Estado e
atraíam gente da pior espécie".
Nada mais natural que uma aspirante à marquesa de Sevigny andasse com uma caravela de arame no topo do penteado. Debora
Bloch se diverte e todo mundo vai
atrás. Pede ao pintor Selton um
retrato bem ardente para ilustrar
um mapa como uma versão portuguesa daquela "venusinha"
com guirlandas do Botticelli.
Basta alguém se referir aos mares nunca d'antes navegados para
o Dorival Caymmi assegurar, todo cantante, que é doce morrer no
mar. E também é bom ouvir que a
maior parte do sal no mar salgado são lágrimas de Portugal.
Alguma dessas lágrimas brotam dos olhos de Selton Mello. Vítima das maldades de um Luís
Melo exultante em sua canastronice, o pintor sofre nos porões de
um navio. Diogo Vilela, degredado profissional, procura convencê-lo a se vestir de mulher para
ser desembarcado. Pois sim que o
guloso Luís Melo deixa.
O Atlântico é um mar tenebroso. É como uma viagem num
trem-fantasma de parque de diversões. Depois de algumas informações sobre os complicados astrolábios e a notícia de que a caravela é uma invenção portuguesa, reencontramos Selton Mello
como Diogo Álvares no maior
aconchego com sua Paraguassu.
Olhem o achado: a carta de Pero Vaz Caminha é a certidão de
nascimento do Brasil. Que os passeios e programas da Páscoa tenham permitido aproveitar todinho o minúsculo seriado. Guel
Arraes é Guel Arraes.
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