|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Diretor diz que entidade, que completa 6 décadas, se apresenta "sem máscaras"; especialistas debatem preservação de filmes
Cinemateca, 60, expõe "virtudes e defeitos"
DA REPORTAGEM LOCAL
O futuro das cinematecas (chamadas também de "arquivos de
filmes" no jargão do setor) será
discutido nesta semana, em São
Paulo, por 170 especialistas credenciados para o 62º Congresso
da Fiaf (Federação Internacional
de Arquivos de Filmes).
A Fiaf é uma espécie de congregação mundial de cinematecas.
Sob o guarda-chuva da federação,
as afiliadas compartilham informações e acervos. Ou seja, ajudam-se nas duas funções básicas
de uma cinemateca -a preservação e a difusão de filmes.
A escolha de São Paulo como sede do congresso (23/4 a 29/4), pela
primeira vez realizado no Brasil,
homenageia os 60 anos da Cinemateca Brasileira, que pediu sua
filiação à Fiaf em 1948, apenas
dois anos após sua própria criação, e aos dez da federação.
Carlos Magalhães, diretor-executivo da Cinemateca Brasileira
desde 2002, afirma que a entidade
"tem o que comemorar", apesar
de certas precariedades estarem à
vista dos convidados.
Uma nova sala de projeção, em
construção na sede da Cinemateca, não ficou pronta a tempo do
Congresso. Magalhães diz que, se
apressasse a obra, comprometeria
o resultado, alternativa descartada. "Estamos nos apresentando
sem máscaras, com nossas virtudes e defeitos", afirma.
A construção do novo cinema
-que triplica a oferta de assentos, hoje restrita aos 104 da Sala
Cinemateca- e a idéia de realizar
sessões ao ar livre no pátio interno
da sede da entidade demonstram
a intenção da diretoria de reforçar
a difusão de filmes para o público
comum, aspecto em que a Cinemateca não se sobressai.
"Preservação só tem sentido se
estiver acompanhada de difusão",
diz Magalhães. Mas houve um
momento em que "foi necessária
uma opção", como lembra o professor da ECA/USP e crítico de cinema Ismail Xavier.
"Nos anos 70, a Cinemateca estava praticamente em colapso, o
que levou a uma atitude de privilégio total à preservação", diz. Xavier participou do esforço feito na
época para reerguer a Cinemateca, assim como Carlos Roberto de
Souza, que permanece até hoje
como curador de seu acervo (de
cerca de 40 mil títulos).
"Não acredito que em nenhum
arquivo de filmes do mundo tenha sido permanentemente resolvida a tensão preservação/difusão", diz Souza.
Um dos elementos que apimentam ainda mais a tensão entre
preservar e difundir é a necessidade do pagamento de direitos autorais aos detentores dos filmes
depositados em cinematecas,
quando essas organizam mostras
de seus acervos.
A questão, embalada sob o rótulo técnico de "fair use" será abordada num workshop dentro do
Congresso da Fiaf.
Independentemente desse debate (e sem ferir as regras), a Cinemateca Brasileira exibe parte dos
tesouros de seu acervo no Cine
Olido; abriga em sua Sala Cinemateca a mostra "Lost and
Found" e festeja seu aniversário
com a programação "60 Anos em
Movimento", a partir da próxima
quinta no Sesc Pompéia, e já em
cartaz no HSBC Belas Artes.
(SILVANA ARANTES)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Sade ganha livros e ciclo de cinema Índice
|