São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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CINEMA

Diretor diz que entidade, que completa 6 décadas, se apresenta "sem máscaras"; especialistas debatem preservação de filmes

Cinemateca, 60, expõe "virtudes e defeitos"

DA REPORTAGEM LOCAL

O futuro das cinematecas (chamadas também de "arquivos de filmes" no jargão do setor) será discutido nesta semana, em São Paulo, por 170 especialistas credenciados para o 62º Congresso da Fiaf (Federação Internacional de Arquivos de Filmes).
A Fiaf é uma espécie de congregação mundial de cinematecas. Sob o guarda-chuva da federação, as afiliadas compartilham informações e acervos. Ou seja, ajudam-se nas duas funções básicas de uma cinemateca -a preservação e a difusão de filmes.
A escolha de São Paulo como sede do congresso (23/4 a 29/4), pela primeira vez realizado no Brasil, homenageia os 60 anos da Cinemateca Brasileira, que pediu sua filiação à Fiaf em 1948, apenas dois anos após sua própria criação, e aos dez da federação.
Carlos Magalhães, diretor-executivo da Cinemateca Brasileira desde 2002, afirma que a entidade "tem o que comemorar", apesar de certas precariedades estarem à vista dos convidados.
Uma nova sala de projeção, em construção na sede da Cinemateca, não ficou pronta a tempo do Congresso. Magalhães diz que, se apressasse a obra, comprometeria o resultado, alternativa descartada. "Estamos nos apresentando sem máscaras, com nossas virtudes e defeitos", afirma.
A construção do novo cinema -que triplica a oferta de assentos, hoje restrita aos 104 da Sala Cinemateca- e a idéia de realizar sessões ao ar livre no pátio interno da sede da entidade demonstram a intenção da diretoria de reforçar a difusão de filmes para o público comum, aspecto em que a Cinemateca não se sobressai.
"Preservação só tem sentido se estiver acompanhada de difusão", diz Magalhães. Mas houve um momento em que "foi necessária uma opção", como lembra o professor da ECA/USP e crítico de cinema Ismail Xavier.
"Nos anos 70, a Cinemateca estava praticamente em colapso, o que levou a uma atitude de privilégio total à preservação", diz. Xavier participou do esforço feito na época para reerguer a Cinemateca, assim como Carlos Roberto de Souza, que permanece até hoje como curador de seu acervo (de cerca de 40 mil títulos).
"Não acredito que em nenhum arquivo de filmes do mundo tenha sido permanentemente resolvida a tensão preservação/difusão", diz Souza.
Um dos elementos que apimentam ainda mais a tensão entre preservar e difundir é a necessidade do pagamento de direitos autorais aos detentores dos filmes depositados em cinematecas, quando essas organizam mostras de seus acervos.
A questão, embalada sob o rótulo técnico de "fair use" será abordada num workshop dentro do Congresso da Fiaf.
Independentemente desse debate (e sem ferir as regras), a Cinemateca Brasileira exibe parte dos tesouros de seu acervo no Cine Olido; abriga em sua Sala Cinemateca a mostra "Lost and Found" e festeja seu aniversário com a programação "60 Anos em Movimento", a partir da próxima quinta no Sesc Pompéia, e já em cartaz no HSBC Belas Artes.
(SILVANA ARANTES)


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