São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Produções de Hollywood vivem "boom" de cigarro

Estudos mostram que cenas com fumantes têm aparecido em mais filmes do que em qualquer época desde os anos 50

Escola Harvard anunciou que os 50 longas campeões de bilheteria em 12 meses exibiram o maior índice de fumo dos últimos dez anos


DAVID USBORNE
DO "INDEPENDENT"

O cigarro pode ter sido banido dos espaços públicos na maior parte dos EUA, mas, ao que parece, o mesmo não se aplica aos cinemas -pelo menos no que diz respeito aos atores que aparecem na tela.
Novos estudos mostram que, apesar das pressões constantes exercidas sobre Hollywood por organizações ligadas à saúde para que o cinema se livre do tabagismo, os cigarros vêm aparecendo em mais filmes do que em qualquer época desde os épicos dos anos 50, em que nuvens de fumaça eram indicações de um clima sensual, e não de doenças cardíacas.
Uma pesquisa divulgada recentemente pela Universidade da Califórnia sugere que até três quartos de todos os filmes produzidos em Hollywood incluem cenas em que um ou mais personagens fumam, e essa cifra cai para apenas 36% nos filmes para o público infantil.
A Escola Harvard de Saúde Pública anunciou, como conclusão de uma pesquisa própria, que os 50 filmes de maior bilheteria num período de 12 meses exibiram 12,8 instâncias de fumo de cigarros por hora de filme -o maior índice dos últimos dez anos.
Essas estatísticas tabagistas impeliram a Escola Harvard a renovar seu lobby para pressionar os estúdios de cinema a tomar medidas novas para exorcizar o fumo dos roteiros de filmes, especialmente dos longas acessíveis a públicos jovens.

Jovens
Como munição adicional, a escola está usando estudos dos periódicos médicos "The Lancet" e "Pediatrics" que sugerem que o impacto sobre os jovens é palpável. As pesquisas mostram que crianças de apenas 10 anos que vêem pessoas acendendo cigarros na tela têm 2,7 vezes mais probabilidade de começar a fumar.
Numa apresentação feita aos diretores dos estúdios, o reitor da Escola Harvard, Harry Bloom, questionou a razão pela qual o sistema vigente de classificação de filmes leva em conta critérios como linguagem chula, mas não o fumo.
"Ninguém até hoje morreu por ouvir palavrões. Mas todos os anos 5 milhões de pessoas morrem de doenças ligadas ao fumo. Se vocês forem honestos, reconhecerão que a maioria das cenas de cigarros em filmes é desnecessária", disse Bloom.
A Escola Harvard tem um histórico de campanhas eficazes de saúde e é lembrada sobretudo por ter introduzido, na década de 80, o conceito de "motoristas designados" entre grupos de amigos que saem para beber. Ela convenceu produtores de televisão a incorporar o novo slogan em programas do horário nobre da TV, e as mortes ligadas à condução de veículos sob o efeito de álcool tiveram uma queda de 25% nos EUA ao longo de três anos.
Mas conseguir que Hollywood promova estilos de vida livres de fumo vem mostrando ser mais difícil. Porém, entre os longas recentes cujos produtores tomaram a iniciativa de manter os cigarros fora da história está o sucesso de 2006 "O Diabo Veste Prada". O filme tratava do mundo da moda, em que o nível de estresse é altíssimo, mas ninguém fumava.
Não é apenas o público que freqüenta cinemas que corre riscos. A atriz Salma Hayek confessou que apenas agora está conseguindo livrar-se de um vício que, afirma, contraiu quando representou a pintora Frida Kahlo num filme.
"Antigamente eu tinha uma opinião péssima dos fumantes.
Eu pensava: "Por que eles fazem isso? O cigarro tem gosto ruim, vai matá-los e nem sequer dá barato. É o vício mais imbecil que seria possível contrair".
Mas então eu mesma fiquei viciada. Já tentei parar outras vezes. Mas desta vez eu dei adeus ao cigarro."


Tradução de CLARA ALLAIN

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