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Produções de Hollywood vivem "boom" de cigarro
Estudos mostram que cenas com fumantes têm aparecido em mais filmes do que em qualquer época desde os anos 50
Escola Harvard anunciou que os 50 longas campeões de bilheteria em 12 meses
exibiram o maior índice de fumo dos últimos dez anos
DAVID USBORNE
DO "INDEPENDENT"
O cigarro pode ter sido banido dos espaços públicos na
maior parte dos EUA, mas, ao
que parece, o mesmo não se
aplica aos cinemas -pelo menos no que diz respeito aos atores que aparecem na tela.
Novos estudos mostram que,
apesar das pressões constantes
exercidas sobre Hollywood por
organizações ligadas à saúde
para que o cinema se livre do
tabagismo, os cigarros vêm
aparecendo em mais filmes do
que em qualquer época desde
os épicos dos anos 50, em que
nuvens de fumaça eram indicações de um clima sensual, e não
de doenças cardíacas.
Uma pesquisa divulgada recentemente pela Universidade
da Califórnia sugere que até
três quartos de todos os filmes
produzidos em Hollywood incluem cenas em que um ou
mais personagens fumam, e essa cifra cai para apenas 36% nos
filmes para o público infantil.
A Escola Harvard de Saúde
Pública anunciou, como conclusão de uma pesquisa própria, que os 50 filmes de maior
bilheteria num período de 12
meses exibiram 12,8 instâncias
de fumo de cigarros por hora de
filme -o maior índice dos últimos dez anos.
Essas estatísticas tabagistas
impeliram a Escola Harvard a
renovar seu lobby para pressionar os estúdios de cinema a tomar medidas novas para exorcizar o fumo dos roteiros de filmes, especialmente dos longas
acessíveis a públicos jovens.
Jovens
Como munição adicional, a
escola está usando estudos dos
periódicos médicos "The Lancet" e "Pediatrics" que sugerem
que o impacto sobre os jovens é
palpável. As pesquisas mostram que crianças de apenas 10
anos que vêem pessoas acendendo cigarros na tela têm 2,7
vezes mais probabilidade de começar a fumar.
Numa apresentação feita aos
diretores dos estúdios, o reitor
da Escola Harvard, Harry
Bloom, questionou a razão pela
qual o sistema vigente de classificação de filmes leva em conta
critérios como linguagem chula, mas não o fumo.
"Ninguém até hoje morreu
por ouvir palavrões. Mas todos
os anos 5 milhões de pessoas
morrem de doenças ligadas ao
fumo. Se vocês forem honestos,
reconhecerão que a maioria das
cenas de cigarros em filmes é
desnecessária", disse Bloom.
A Escola Harvard tem um
histórico de campanhas eficazes de saúde e é lembrada sobretudo por ter introduzido, na
década de 80, o conceito de
"motoristas designados" entre
grupos de amigos que saem para beber. Ela convenceu produtores de televisão a incorporar
o novo slogan em programas do
horário nobre da TV, e as mortes ligadas à condução de veículos sob o efeito de álcool tiveram uma queda de 25% nos
EUA ao longo de três anos.
Mas conseguir que Hollywood promova estilos de vida
livres de fumo vem mostrando
ser mais difícil. Porém, entre os
longas recentes cujos produtores tomaram a iniciativa de
manter os cigarros fora da história está o sucesso de 2006 "O
Diabo Veste Prada". O filme
tratava do mundo da moda, em
que o nível de estresse é altíssimo, mas ninguém fumava.
Não é apenas o público que
freqüenta cinemas que corre
riscos. A atriz Salma Hayek
confessou que apenas agora está conseguindo livrar-se de um
vício que, afirma, contraiu
quando representou a pintora
Frida Kahlo num filme.
"Antigamente eu tinha uma
opinião péssima dos fumantes.
Eu pensava: "Por que eles fazem
isso? O cigarro tem gosto ruim,
vai matá-los e nem sequer dá
barato. É o vício mais imbecil
que seria possível contrair".
Mas então eu mesma fiquei viciada. Já tentei parar outras vezes. Mas desta vez eu dei adeus
ao cigarro."
Tradução de CLARA ALLAIN
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