|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Zé do Caixão desnuda o horror do cotidiano
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É quase estarrecedor que
"Encarnação do Demônio"
(Canal Brasil, 23h; 18 anos) tenha sido um fracasso colossal,
quando lançado em cinemas,
há coisa de dois anos.
Pode-se alegar que o filme
não teve campanha adequada
de marketing, que a censura
aprontou uma das suas ao proibir o filme para menores de 18
anos (a história de que não há
censura no Brasil é bem mal
contada no que diz respeito à
produção cinematográfica),
considerando-se que os adolescentes são o público mais aberto aos filmes de terror etc.
Tratava-se do retorno à ativa, depois de longo afastamento, de José Mojica Marins, cineasta relevante, reconhecido
internacionalmente e tal e coisa. Mas o público brasileiro reservou-lhe a acolhida que costuma dar aos seus bons filmes:
virou as costas e foi atrás de novidade novidadeira.
Ora, fiquemos apenas com a
abertura deste filme magnífico:
depois de décadas preso, Zé do
Caixão é finalmente posto em
liberdade. A sensação de terror
é iminente. As piores coisas poderão acontecer com tal monstro à solta. No entanto, na primeira cena fora da prisão, Zé
quase é atropelado por um carro policial.
E o encanto se quebra, ou começa aí: nesse rápido momento em que constatamos que o
nosso cotidiano se tornou, em
alguns anos, mais violento e sinistro do que o pior terror.
Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia Próximo Texto: José Simão: Padrefolia! Tá bombando em Arapiroca! Índice
|