São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Zé do Caixão desnuda o horror do cotidiano

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É quase estarrecedor que "Encarnação do Demônio" (Canal Brasil, 23h; 18 anos) tenha sido um fracasso colossal, quando lançado em cinemas, há coisa de dois anos.
Pode-se alegar que o filme não teve campanha adequada de marketing, que a censura aprontou uma das suas ao proibir o filme para menores de 18 anos (a história de que não há censura no Brasil é bem mal contada no que diz respeito à produção cinematográfica), considerando-se que os adolescentes são o público mais aberto aos filmes de terror etc.
Tratava-se do retorno à ativa, depois de longo afastamento, de José Mojica Marins, cineasta relevante, reconhecido internacionalmente e tal e coisa. Mas o público brasileiro reservou-lhe a acolhida que costuma dar aos seus bons filmes: virou as costas e foi atrás de novidade novidadeira.
Ora, fiquemos apenas com a abertura deste filme magnífico: depois de décadas preso, Zé do Caixão é finalmente posto em liberdade. A sensação de terror é iminente. As piores coisas poderão acontecer com tal monstro à solta. No entanto, na primeira cena fora da prisão, Zé quase é atropelado por um carro policial.
E o encanto se quebra, ou começa aí: nesse rápido momento em que constatamos que o nosso cotidiano se tornou, em alguns anos, mais violento e sinistro do que o pior terror.


Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia
Próximo Texto: José Simão: Padrefolia! Tá bombando em Arapiroca!
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.