São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997.



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TEATRO
Grupo catalão retorna ao Brasil com o espetáculo "Manes", que traz a 'estética furera' do susto e da ação
La Fura sai à caça do homem primitivo

Reprodução
Cena do espetáculo ''Manes'', com o grupo catalão La Fura Dels Baus, que chega a SP dia 27 deste mês


DANIELA ROCHA
enviada especial a Porto Alegre

O grupo de teatro catalão La Fura Dels Baus sempre causa barulho quando passa pelo Brasil. Desta vez, começou a turnê brasileira por Porto Alegre, onde fará hoje a última apresentação de "Manes", seu novo espetáculo, que marca o lançamento da quarta edição do festival Porto Alegre em Cena.
O Fura já se esteve duas vezes em São Paulo. "Manes" integra a Temporada Sesc Outono 97 e se apresenta no Sesc Pompéia nos dias 27, 28 e 29 deste mês.
O espetáculo "Manes" mostra a origem humana e faz referência ao deus Jano, o deus mitológico que tem duas caras -bem e mal estão na mesma pessoa. "É um pouco a esquizofrenia de final de milênio", afirmou o diretor Pera Tantiñá.
O símbolo de "Manes" é o frango, usado várias vezes no espetáculo. "O frango simboliza o nascimento, a origem por causa dos ovos, a consciência, a morte, o alimento", disse o diretor.
O Fura tem motivo para causar barulho por onde passa. É um grupo que desenvolveu uma estética que só funciona com grande público presente. Para atrair espectadores, o grupo criou uma dramaturgia que não é literária. "Não há um princípio ou um final, não há uma moral. O Fura busca criar impacto visual que provoque o espectador, excitando-o com a surpresa da ação", diz o diretor.
Os espetáculos têm atores/personagens, ou seja, cada ator imprime sua personalidade e energia ao personagem. As cenas têm sempre vigor, requerem preparo físico e energia dos atores. O público deve ir ao local do espetáculo preparado para diferentes emoções e ações: pode tanto levar um banho de água como sair correndo com medo de ser atingido por um latão.
Ao todo são sete ex-atores do Fura que coordenam os diversos projetos do grupo, que muitas vezes acontecem simultaneamente. Enquanto "Manes", com 11 atores, faz turnê mundial, outro núcleo, com cerca de 40 atores e cantores, prepara a montagem da ópera "O Martírio de São Sebastião", que estréia neste mês em Roma.
"La Fura virou uma empresa", admite Tantiñá. "Mas não podemos viver sem nos tornarmos uma empresa."
Uma das preocupações do grupo é manter a diversidade de atividades -como peças, óperas, workshops, performances, comerciais de TV- sempre com revezamento de coordenadores para que os projetos tomem rumos diferentes, mas que tenham a qualidade e a estética "furera".
Apesar de usar elementos de cena que se repetem, como carne e sangue, água, latões e fogo, e de ter os atores nus ou quase nus, sempre expostos ao risco, o Fura busca inovar, segundo seu diretor.
Para isso, agrega atores e artistas de diversas áreas que tenham identificação com o grupo. A idade dos atores de "Manes" varia de 25 a 30 anos, e, por opção de Tantiñá, eles vêm de partes diferentes da Espanha e de outros países, como Bélgica, Marrocos e Portugal.
"Estamos interessados em ampliar o Fura e não em fechá-lo. Não é uma dispersão, mas uma diversificação. Queremos nos deixar contaminar por outros artistas, levando à cena a diversidade de culturas. Queremos buscar e transgredir gêneros."


A repórter Daniela Rocha viajou a convite da organização do festival




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