São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Livros

Crítico literário notifica editora em caso de plágio

Nova Cultural publicou tradução de Luiz Costa Lima atribuindo a outra pessoa

Versão de "O Vermelho e o Negro", de Stendhal, foi publicada pela editora Brughera em 1969 e reeditada em 2002

DA REPORTAGEM LOCAL

O crítico Luiz Costa Lima está notificando extrajudicialmente a editora Nova Cultural pelo plágio de uma tradução de "O Vermelho e o Negro", clássico de Stendhal. A sua tradução, publicada pela ed. Brughera em 1969, foi reeditada pela Nova Cultural, que atribuiu a tradução a Maria Cristina F. da Silva. Este é um dos 22 títulos da coleção "Obras-Primas", lançados entre 1995 e 2002, com confirmação ou suspeita de plágio.
Dois casos de plágio em tradução da Nova Cultural haviam sido noticiados pela Folha em 15 de dezembro de 2007, inclusive de uma tradução de Mario Quintana, que também teve o nome omitido. Em seguida, um grupo de tradutores reunidos no blog http://assinado-tradutores.blogspot.com apontou mais 20 títulos com plágio na coleção "Obras-Primas" e organizou um abaixo-assinado de mais de 300 especialistas.
Segundo Marco Túlio de Barros e Castro, advogado da Weikersheimer & Castro, escritório carioca que representa Costa Lima, a notificação extrajudicial visa a suspensão da comercialização e distribuição das edições de 1995 e 2002 de "O Vermelho e o Negro", o pagamento de indenização e a publicação de uma errata em um jornal de grande circulação. Segundo ele, os pedidos seguem a lei 9.610 de 1998 (lei do direito autoral) e seu artigo 108. Segundo Castro, não havendo resposta positiva da editora, será ajuizada a ação judicial.
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da PUC-RJ, Costa Lima é um dos principais críticos literários do país. "Foi a única tradução que fiz do francês", afirmou. "Fiquei muito surpreso pela extensão da coisa", disse. Ele foi alertado do plágio pelo grupo de tradutores (e é signatário do abaixo-assinado).
O crítico, que é colunista da Folha, notou que pelo menos um erro da edição original havia sido reproduzido de maneira idêntica na edição da Nova Cultural. Erros repetidos são provas importantes para caracterizar plágios judicialmente, segundo especialistas.

Outro lado
Procurada pela Folha, a Nova Cultural disse desconhecer qualquer demanda de Costa Lima. Perguntada se tinha a intenção de divulgar errata, destruir exemplares não-comercializados ou conceder indenização, a editora se limitou a afirmar que "dedicará a melhor atenção ao caso visando a solução de quaisquer problemas que possam ter ocorrido".
A coleção "Obras-Primas", vendida de início em bancas de jornal, está à venda no site www.novacultural.com.br. Neste ano, após as denúncias, os 22 títulos apontados como plágio deixaram de ser vendidos pela internet, incluindo "O Vermelho e o Negro".
A editora L&PM, que editou dois títulos desta coleção após negociar os direitos de publicação em 2003, já acionou judicialmente a Nova Cultural, conforme a Folha noticiou no último dia 10. Não é o único caso de plágio apontado no mercado editorial recentemente. A Martin Claret também tem livros com plágio em tradução, como a Folha noticiou no fim de 2007. (MARCOS STRECKER)


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