São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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DVDs

"Rastros de Ódio", de John Ford, é o próximo DVD da Coleção Folha

Protagonizado por John Wayne, filme é considerado obra-prima de Ford

DA REPORTAGEM LOCAL

John Ford era famoso por seu mau humor e extrema objetividade (para não dizer secura) na hora de dar entrevistas. Recusava o rótulo de grande artista e definia-se assim: "Meu nome é John Ford e faço westerns". Mas é difícil negar que tenha sido um dos artistas mais influentes do século passado, afinal seus filmes correram o mundo e ajudaram a criar toda uma mitologia da América.
Próximo volume da Coleção Folha Clássicos do Cinema (nas bancas em 31/5), "Rastros de Ódio", de 1956, é considerado o melhor filme de Ford. Isolado, o filme se sustenta perfeitamente como obra-prima, mas ganha sentido especial à luz da evolução de sua parceria com John Wayne, o mais constante ator de seus westerns.
Como bem observa Martin Scorsese em seu documentário sobre cinema americano ("Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano"), o western atinge uma complexidade ímpar em "Rastros de Ódio" graças, em grande parte, à riqueza do personagem de Wayne, Ethan Hunt.
O filme se passa no Texas, em 1868. Quando começa, Hunt volta à casa do irmão Aaron (Walter Coy). Sabemos que ele foi lutar na Guerra da Secessão, mas ele só reaparece três anos depois do fim da guerra, e não fica claro por onde andou. Hunt volta amargo e racista como nunca. Odeia os índios a ponto de rejeitar frontalmente Martin Pawley (Jeffrey Hunter), jovem mestiço que protegeu quando criança e entregou para seu irmão criar como um filho.
Depois que um grupo comanche mata seu irmão e sua nora e rapta as sobrinhas Lucy e Debbie, Ethan se junta a Martin para uma busca que vai durar cerca de sete anos.
A tradição narrativa do cinema americano e a grande capacidade de composição visual de Ford unem-se à perfeição neste filme. No livro que acompanha o DVD neste volume da coleção, há trechos da rica fortuna crítica em torno de John Ford, além de ensaio do crítico da Folha Inácio Araujo.
Como observa Araujo, "Rastros de Ódio" começa com uma porta que se abre e termina com a mesma porta se fechando -entre esses dois momentos, acompanhamos a aventura de um anti-herói. "Mas podemos tentar ver as coisas por outro ângulo: a porta que se abre, no início, ou que se fecha, no final, são objetos por onde a luz passa ou não, dividindo a tela em vastas regiões de claridade e sombra. (...) No final, o fechamento da porta nos lembra de que a grande epopeia acabou. A tristeza fica para nós, espectadores (único consolo: poder voltar a ver o filme)".

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