São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Emerson String Quartet faz apresentação primorosa em SP

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

"O magnetismo que todas as ações originais exercem se explica quando indagamos a razão da confiança em nós mesmos." A frase do filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882) procura alcançar -a partir de uma radicalização da autoconfiança- a fonte onde "todas as coisas encontram sua origem comum".
O pensador empresta o nome ao premiado quarteto de cordas Emerson String Quartet, que se apresentou no último sábado (21) na Sala São Paulo como parte da temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Ele bem poderia estar pensando no "Quarteto op.131" de Beethoven (1770-1827). Escrita no último ano de sua vida, a obra incorpora personas poéticas ao inabalável ego beethoveniano.
Engenharia harmônica e contrapontística são puro Beethoven, mas forma e melodia saltam para fora de si. O compositor corre riscos, sonda abismos. A pulverização da forma em sete movimentos de tamanhos e importâncias desiguais subverte o classicismo.
E o quarto movimento, um derradeiro tema variado, refaz o percurso por dentro da obra ao peregrinar, ao longo das variações, sete novos estágios.
Poucos cameristas conseguem tão perfeita homogeneidade como os violinistas Philip Setzer e Eugene Drucker. O tema do movimento central passa pela alternância entre os violinos, cada qual erigindo sua frase da repetição da última nota do colega, como se fosse um só instrumento.
O "Quarteto nº 5" de Mendelssohn (1809-1847), que abriu o programa, soa anterior a Beethoven, embora tenha sido escrita 11 anos depois. Foi bom para estabelecer o som do grupo na sala, e também para curtir alguns temas graves no violoncelo de David Finckel.

RAIO DE BELEZA
Mas foi no "Quarteto n º6" do húngaro Béla Bartók (1881-1945), iniciado com solo de viola do exímio Lawrence Dutton, escrito no limiar da Segunda Guerra, que a autoconfiança hiperbólica de Emerson tomou conta do Emerson.
Essa música melancólica e forte, heterogênea na superposição multiversátil de escalas típicas, parece ter sido escrita para eles. Cada efeito de timbre rigorosamente trabalhado, sem deixar desandar o edifício estrutural.
"Qual é a natureza e o poder dessa estrela que desnorteia a ciência, que dispara um raio de beleza mesmo nas ações triviais e impuras?", pergunta Emerson.
A sentença bem pode resumir a arte do Emerson String Quartet. Quando a performance atinge esse nível, flashes de sentidos são disparados entre uma e outra nota da partitura.

EMERSON STRING QUARTET

AVALIAÇÃO ótimo


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