IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se "Lamentos" e "Um a Zero" são clássicos da MPB, "Carinhoso" pertence ao imaginário nacional e é reconhecida e cantarolada mesmo por quem desconhece sua autoria. Compositor dessas e de outras obras-primas, Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973) aparece, nas obras de referência, como um dos "pais fundadores" de nossa música popular.
Suas composições jamais desapareceram do repertório dos "chorões". A inegável virtuosidade como instrumentista, tanto na flauta quanto no saxofone, pode ser conferida em vários CDs. O que faltava eram fonogramas que dessem condições de dar a real dimensão de seu talento como arranjador.
Pois essa lacuna que é preenchida pela "Série Pixinguinha", caixa com três CDs (também vendidos separadamente) que reúne orquestrações originais do autor de "Rosa". Com direção artística de Mário Vianna, neto do compositor, a iniciativa prevê a edição de mais sete discos, resgatando, do acervo da família, partituras escritas entre as décadas de 1920 e 1960.
Instrumentações luxuriantes e soberbas, empregando solidamente a técnica do romantismo tardio europeu, marcam "Pixinguinha Sinfônico", volume no qual o maestro Silvio Barbato (desaparecido no acidente com o voo 477 da Air France) rege a excelente Orquestra Petrobras Sinfônica e um primoroso time de solistas convidados, como Hamilton de Holanda (bandolim), Paulo Sérgio Santos (clarineta), José Staneck (gaita) e Toninho Ferragutti (acordeão).
Aberto com a versão original de "Carinhoso" (com oito minutos de duração, orquestração sinfônica e sem letra), o disco ressalta a ligação do músico com a valsa, no encantador lirismo de "Flor do Mal" e "Valsa dos Ausentes".
Dirigida por Osman Gioia, a Sinfônica do Recife soa como uma empolgada big band em "Pixinguinha Sinfônico Popular", volume cuja desvantagem é a brevidade: só 32 minutos. Com a trilha sonora do filme "Sol Sobre a Lama", de Alex Viany, na qual algumas canções recebem versos de Vinícius de Moraes, "Pixinguinha no Cinema" é o item menos interessante, devido ao anódino desempenho de cantores como Céu, Elza Soares e Diogo Nogueira .