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"EXTERMÍNIO"
Boyle não traz nada de inédito, apesar da nova roupagem
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Resumindo muito grosseiramente, "Extermínio", de
Danny Boyle, é um filme de zumbi metido à besta. Apesar do tratamento formal moderno, com imagens captadas em vídeo pelo
fotógrafo Anthony Dod Mantle
(de "Festa de Família" e "Mifune", dois dinamarqueses do movimento Dogma 95), o conteúdo é
o mesmo de antigas produções
baratas, misturando horror, ficção científica e catástrofe. Nada
que já não se tenha visto antes,
com nova roupagem.
"Extermínio" marca a volta de
Danny Boyle ao cinema comercial
depois de duas experiências digitais realizadas para a rede britânica de televisão BBC, que permaneceram praticamente inéditas
fora da Inglaterra.
Essas, por sua vez, se seguiram a
duas malsucedidas experiências
hollywoodianas ("Por uma Vida
Menos Ordinária", de 97, e "A
Praia", de 2000). Boyle traçou o
mais típico percurso dos cineastas
elevados à categoria cult (com
"Cova Rasa", de 1994, e "Trainspotting", de 1996), quebrando a
cara ao partir para projetos de orçamentos elevados.
"A Praia", primeiro filme com
Leonardo DiCaprio após o megafenômeno "Titanic", foi considerado uma megadecepção.
Com "Extermínio", ele está se reerguendo praticamente do nada. O filme estreou muito modestamente nos Estados Unidos, mas vem conseguindo bilheteria surpreendente.
Boyle realizou um trabalho visivelmente barato e pouco ambicioso, que o obrigou a buscar soluções visuais criativas. As imagens mais impressionantes do filme estão nos planos que mostram
Londres absolutamente deserta
depois da devastação de um vírus
fabricado em laboratório.
Esse vírus, de características especiais, desperta nos mortais uma
raiva incontrolável. Tem efeitos
mais psicológicos do que físicos,
apesar de deixar as pessoas com
aspecto horrendo. Quem é infectado torna-se como um zumbi
que ataca furiosamente quem
passa pela frente.
É curioso assistir a gêneros como o filme de zumbi e o filme catástrofe, tão identificados com o
cinema americano, em um filme
inglês. O que ganha contornos
ainda mais interessantes após a
união Bush-Blair para atacar o
Iraque e, agora, com as consequências devastadoras que as supostas mentiras da guerra estão
provocando na imagem do britânico Tony Blair.
O cinema inglês, ou pelo menos
parte dele, passou por um processo de quase mimetização com o
cinema dominante norte-americano. E Boyle, certamente, foi o
representante da nova geração
que mais se aproximou dessa mimetização.
Com a Inglaterra se metendo
em confusões de Estado tão identificadas com a violência extrema
e o horror, é sintomático que o cinema inglês, tão identificado com
o humanismo de Ken Loach e Mike Leigh, comece a produzir suas
catástrofes próprias. E elas estão
ligadas a um processo de homogeneização com fortes tendências
fascistas, como mostra a parábola
de Danny Boyle.
Extermínio
28 Days Later
Produção: Holanda/Grã-Bretanha/EUA
Direção: Danny Boyle
Com: Cillian Murphy, Naomie Harris,
Christopher Eccleston, Megan Burns,
Brendan Gleeson
Quando: estréia em circuito nacional a
partir de amanhã
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