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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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Bortolotto visita abismos de Kerouac

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Poderia ser num boteco, numa espelunca do bairro do Bixiga, jazz e blues no último volume, tomando "um porre da maior competência". E vai ser quase isso. Mário Bortolotto vai encontrar Jack Kerouac no teatro mesmo, defendendo o primeiro monólogo da sua carreira. De quebra, sem cerimônia, ele homenageia um dos principais culpados pelas mais de 40 peças que escreveu até a noite passada.
O espetáculo "Kerouac" entra em cartaz amanhã no Centro Cultural São Paulo. Pode ser uma fresta para assimilar um tanto do que o ator, dramaturgo, poeta e dublê de vocalista de banda de rock e seu grupo, o Cemitério de Automóveis, representam na cena teatral contemporânea do país.
Nascido em Londrina (PR), Bortolotto, 40, é autor de peças como "Musa de Rayban" e "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet". No ano passado, emplacou 26 peças em mostra no CCSP.
É para lá que Bortolotto retorna para interpretar o norte-americano Jack Kerouac (1922-1969), um dos escritores da geração beat nos EUA dos anos 50 (William Burroughs, Allen Ginsberg, Gregory Corso, Lawrence Ferlinguetti etc), influência que não o angustia nem um pouco.
Com texto de Maurício Arruda Mendonça, escritor e dramaturgo que conheceu nos tempos de Londrina, e direção de Fauzi Arap (o mesmo de "Santidade", de José Vicente, na qual atuou em 1997), Bortolotto interpreta um Kerouac em final de vida (morreu aos 47, sozinho e abandonado, "batido pelo peso dos anos, pelo fracasso literário, pela solidão, pelo álcool e pelas drogas", como descreve Arruda).
A peça se passa na casa sombria onde o autor de "On the Road" atravessa seus últimos dias. "Kerouac se queixa dos escritores, dos amigos, escancara seu lado francamente reacionário e religioso, sofre com a morte do amigo Neal Cassady e, acima de tudo, nos oferece um personagem demasiadamente humano, contraditório e, por vezes, comovente", afirma Bortolotto.
No monólogo, um cansado Jack Kerouac alterna estados de ânimo como a inocência, o entusiasmo, a paranóia e a fúria alcoólica. Ele está inchado, tem depressão e se queixa de sustentar a mulher e a mãe paralítica, além de seus gatos. Tudo em menos de uma hora de espetáculo.


KEROUAC. De: Maurício Arruda Mendonça. Direção: Fauzi Arap. Com: Mário Bortolotto. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3277-3611). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h. Quanto: R$ 12 (dia 1º/8, R$ 1,20). Até 31/ 8.


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