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Bortolotto visita abismos de Kerouac
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Poderia ser num boteco, numa
espelunca do bairro do Bixiga,
jazz e blues no último volume, tomando "um porre da maior competência". E vai ser quase isso.
Mário Bortolotto vai encontrar
Jack Kerouac no teatro mesmo,
defendendo o primeiro monólogo da sua carreira. De quebra, sem
cerimônia, ele homenageia um
dos principais culpados pelas
mais de 40 peças que escreveu até
a noite passada.
O espetáculo "Kerouac" entra
em cartaz amanhã no Centro Cultural São Paulo. Pode ser uma
fresta para assimilar um tanto do
que o ator, dramaturgo, poeta e
dublê de vocalista de banda de
rock e seu grupo, o Cemitério de
Automóveis, representam na cena teatral contemporânea do país.
Nascido em Londrina (PR),
Bortolotto, 40, é autor de peças
como "Musa de Rayban" e "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet".
No ano passado, emplacou 26 peças em mostra no CCSP.
É para lá que Bortolotto retorna
para interpretar o norte-americano Jack Kerouac (1922-1969), um
dos escritores da geração beat nos
EUA dos anos 50 (William Burroughs, Allen Ginsberg, Gregory
Corso, Lawrence Ferlinguetti etc),
influência que não o angustia
nem um pouco.
Com texto de Maurício Arruda
Mendonça, escritor e dramaturgo
que conheceu nos tempos de Londrina, e direção de Fauzi Arap (o
mesmo de "Santidade", de José
Vicente, na qual atuou em 1997),
Bortolotto interpreta um Kerouac
em final de vida (morreu aos 47,
sozinho e abandonado, "batido
pelo peso dos anos, pelo fracasso
literário, pela solidão, pelo álcool
e pelas drogas", como descreve
Arruda).
A peça se passa na casa sombria
onde o autor de "On the Road"
atravessa seus últimos dias. "Kerouac se queixa dos escritores,
dos amigos, escancara seu lado
francamente reacionário e religioso, sofre com a morte do amigo
Neal Cassady e, acima de tudo,
nos oferece um personagem demasiadamente humano, contraditório e, por vezes, comovente",
afirma Bortolotto.
No monólogo, um cansado Jack
Kerouac alterna estados de ânimo
como a inocência, o entusiasmo, a
paranóia e a fúria alcoólica. Ele está inchado, tem depressão e se
queixa de sustentar a mulher e a
mãe paralítica, além de seus gatos.
Tudo em menos de uma hora de
espetáculo.
KEROUAC. De: Maurício Arruda
Mendonça. Direção: Fauzi Arap. Com:
Mário Bortolotto. Onde: Centro Cultural
São Paulo - sala Paulo Emílio (r.
Vergueiro, 1.000, Paraíso, São Paulo, tel.
0/xx/11/ 3277-3611). Quando: estréia
amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom.,
às 20h. Quanto: R$ 12 (dia 1º/8, R$ 1,20).
Até 31/ 8.
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