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TEATRO
FESTIVAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Estrangeiros e painel do teatro em tempo de recessão evitam esvaziamento
Peças são marcadas por economia de meios
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Com ausências importantes
de última hora e uma programação bem menor no horário alternativo (o lugarNenhum tem sido um caçula bem mais comportado do que já foi a marca de distinção do evento), o 3º Festival Internacional de Teatro de São José
do Rio Preto escapa do esvaziamento graças às marcantes participações estrangeiras e a um painel representativo do teatro em
tempo de recessão.
Excetuando-se a esperada superprodução "Os Sete Afluentes
do Rio Ota" e o cenário vistoso de
"A Lavanderia", produção da cidade, os espetáculos têm sido
marcados por uma economia de
meios, valendo-se sobretudo do
talento dos atores e da criatividade da cenografia.
Assim, sobrevivem os mais flexíveis. O Teatro da Vertigem
reencontrou seu "Paraíso Perdido" na bela Basílica de Rio Preto, e
a companhia Cemitério de Automóveis, forjada em muitos festivais, testou a resistência de seus
atores (Fernanda d'Umbra chegou a se envolver em cinco espetáculos em quatro dias), com sua
mistura de um texto criado para o
jogo dos atores e de marcas surpreendentemente sofisticadas.
Assim, em "Nossa Vida Não
Vale um Chevrolet", um inesquecível duelo de improvisos entre os
atores-diretores Mário Bortolotto
e Jairo Mattos era entremeado por
um enterro sugerido apenas pela
postura dos atores, em uma solução essencial que remete ao diretor inglês Peter Brook.
Novidades
Entre as novidades, a Cia. Livre,
fiel ao seu despojamento, criou
duas peças curtas do dramaturgo
alemão Franz Xaver Kroetz, com
os atores mostrando a passagem
de tempo ao deslocar os poucos
elementos do cenário.
Ambos os textos, "Cidade Alta"
e "O Ninho", que formam uma
sequência temática que faz lembrar as peças didáticas brechtianas, flertam com o naturalismo ao construir a narrativa por cenas
curtas e cotidianas, contando
com a entrega total dos atores.
Eucir de Souza, o marido comum
às duas peças, faz valer sua sensibilidade e contenção, e Tatiana
Thomé impressiona pelo modo
como se torna vulnerável em cena. Raquel Tamaio, que também é
a diretora de "Cidade Alta", faz a
mulher da segunda peça caindo
às vezes no melodrama.
Além disso, um ritmo muitas
vezes ralentado e a perigosa presença de uma televisão em cena,
que contagia com eficácia excessiva sua mediocridade, impedem
os espetáculos de decolar.
No extremo oposto, "Partida",
do Teatro da Conspiração, evoca
a violência e a marginalidade da
periferia dispensando todo recurso realista. A diretora Solange
Dias lança mão de recursos da tragédia grega, com coro e coreografia elaborados, sem perder a linguagem cotidiana nos diálogos.
Um desafio corajoso, infelizmente comprometido pela fragilidade
do elenco, que se aplica com energia, mas faz soar ingênuo um texto declamado.
De toda forma, na corda bamba
entre o muito que se há para dizer
e os poucos recursos que existem
para isso, os artistas presentes ao
festival sempre podem contar
com a presença maciça e o olhar
atento do público da cidade
-outro diferencial que torna o
festival de teatro de São José do
Rio Preto imprescindível.
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - de 17 a 27/7.
Quanto: de R$ 2,50 a R$ 10, ou grátis.
Informações pelo tel. 0/xx/ 17/ 3215-1830 ou no site
www.festivalriopreto.com.br. Co-patrocinador: Petrobras.
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