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MÚSICA
Apesar de prolífico, pop do Estado está restrito à região e não atinge a mesma popularidade no resto do país
Rock gaúcho se mantém apenas no RS
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um rápido resumo do rock brasileiro vê, desde os anos 80, o surgimento de pólos criativos alternativos ao eixo Rio/São Paulo.
Brasília, Recife e Belo Horizonte
se firmaram no cenário nacional
por diferentes motivos, mas uma
capital vem tentando, neste mesmo período de tempo, sua entrada na elite do rock brasileiro. Público e crítica avalizam Porto Alegre, mas o mercado ainda é resistente ao rock gaúcho.
Rock gaúcho que, de tempos em
tempos, surge no horizonte como
aposta certa para uma renovação
no pop brasileiro. Tais previsões
remontam à hoje histórica coletânea "Rock Grande do Sul" (que
reunia DeFalla, Replicantes, Garotos da Rua, TNT e Replicantes),
passam por "Camila, Camila", do
Nenhum de Nós, continuam nos
Cascavellettes, vão à Graforréia
Xilarmônica e desembocam na
atual safra, capitaneada pela dupla Bidê ou Balde e Vídeo Hits.
Isso sem contar os anos de fermentação, uma pré-história de
primeira, incluindo nomes como
o Liverpool, a dupla Kleiton e
Kleidir e o heróico Nei Lisboa.
Mas desde os anos 80, a cada três
anos, ele volta à pauta.
Mas bate e volta. "Na verdade
há uma falha na comunicação,
porque é uma cultura muito diferente", tenta explicar o produtor
Carlos Eduardo Miranda, responsável por lançar nacionalmente
várias bandas gaúchas nos selos
Banguela, Excelente e Matraca.
"O humor gaúcho é muito peculiar, há uma ironia que as pessoas
não entendem, levam a sério",
concorda o cantor Wander Wildner. "Mas um monte de jornalista
veio dizendo que era "engraçadinho", quando não tem nada disso", continua Miranda.
"Por mais que o Rio Grande do
Sul queira ser Brasil, é diferente",
explica Frank Jorge, autor de um
dos discos mais elogiados do ano
passado, "Carteira Nacional de
Apaixonado". "A gente está mais
perto da Argentina e de Montevidéu do que do Nordeste e da
Amazônia. Isso interfere em tudo,
principalmente na linguagem."
E não são apenas as letras ou a
atitude. "Até na musicalidade tem
uma coisa mais gaúcha. Existe algo nos timbres, algo que difere as
bandas gaúchas do Tihuana, do
Surto, do Charlie Brown Jr.", ressalta Rossato, guitarrista e principal compositor da banda Bidê ou
Balde, vencedora do prêmio de
revelação no último VMB da
MTV. "Não é exagero dizer que
também há um certo preconceito", alfineta Frank Jorge.
O fator cultural não é o único
-o geográfico também é determinante. Continua Rossato, hoje
morando em São Paulo: "A distância dificulta muito". "Para
conseguir destaque nacional, é
preciso fazer shows no Rio e em
São Paulo", conta Pedro Veríssimo (sim, neto do escritor Érico),
vocalista da banda Tom Bloch. "A
maioria das bandas fica por aqui."
"A distância também contribuiu para formar uma cena local
com um certo grau de auto-suficiência", teoriza o líder dos Walverdes, Gustavo Bittencourt. "O
ouvinte médio gaúcho consome
muito pop rock gaúcho, como Papas da Língua, Comunidade Ninjitsu e Tequila Baby", diz.
Acrescente nomes como Ultramen, Cidadão Quem e Acústicos
& Valvulados a essa elite do pop
gaúcho, bandas levemente conhecidas no cenário nacional, mas
que são verdadeiros ídolos populares no Estado. Com um circuito
de shows ativo, músicas tocando
em várias rádios, gravadoras locais e reportagens na TV local, a
cena gaúcha vai bem -mas isolada do resto do Brasil.
"A gente tem no mínimo 15
bandas na estrada, tocando no rádio e vendendo disco", orgulha-se
Raul Albornoz, da gravadora Antídoto. E faz as contas: "O Papas
da Língua, proporcionalmente,
deveria estar vendendo 1,5 milhão
de discos no Brasil, comparando
o que eles vendem aqui com o
percentual de discos consumidos
no Rio Grande do Sul". Miranda
endossa: "Cada Estado deve ter os
seus fenômenos locais. O problema é que aqui todo ídolo local é
empacotado e diluído para o resto
do país". Wander lamenta: "Isso
acaba acomodando as bandas".
"O Rio Grande do Sul nunca teve um fenômeno que levantasse a
bandeira gaúcha, como fez o
mangue beat. Tentaram fazer isso
com aquela coisa, tchê music",
conta Carlos Branco, da gravadora Barulhinho. "A galera reclama
de ser rotulada como gaúcho,
quando não vê que isso é um marketing favorável", filosofa Miranda. "Modéstia à parte, a gente é
mais doido mesmo."
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