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"Devíamos nos sentir como assassinos"
DO ENVIADO A EDIMBURGO
Rick Moody é um dos autores mais populares da boa
ficção contemporânea dos
EUA e um dos mais "pop".
Não é ostensivo, mas o universo dos quadrinhos, hambúrgueres e rock'n'roll sempre marca presença nos livros deste nova-iorquino.
E já são muitos. O autor de
romances como "Estado Jardim", o ótimo "América
Púrpura" e "Tempestade de
Gelo" (adaptado para filme
de Ang Lee), todos editados
no Brasil pela Rocco, está
ampliando sua bibliografia.
Ele acaba de publicar
"Black Veil" (Véu Negro),
no qual trata de sua relação
com o pai por meio de conto
do romancista Nathaniel
Hawthorne sobre um padre
que, de um dia para o outro,
decide cobrir para seu rosto
com um pano preto.
Depois de falar sobre o livro, em debate com a jovem
autora escocesa Gwendoline
Riley, 22, Moody recebeu a
Folha.
(CEM)
Folha - Em seu livro mais recente, "O Véu Negro", o sr. diz
que a verdadeira cor dos EUA
não é a combinação de branco, vermelho e azul da bandeira, mas o preto. Por quê?
Rick Moody - Por trás disso
está minha convicção de que
a história norte-americana é
cheia de capítulos dos quais
deveríamos nos envergonhar. O genocídio dos nativos, nossa política externa
sempre totalitária, o isolacionismo de nossa cultura.
Deveríamos nos sentir como
assassinos, e assim usar preto, a cor do luto.
Folha - Por que fazer uma
ficção carregada pelo pop
americano, se o sr. tem essa
visão crítica da cultura dos
EUA?
Moody - Não me considero
um autor pop, acho que os
críticos exageram. Mas me
parece estranho também o
escritor que não faz menção
à sua cultura popular.
Folha - Em "Estado Jardim",
o sr. descreve sua juventude,
em "Demonology" o sr. trata
da morte de uma irmã e agora
escreve sobre sua relação
com seu pai. Qual o papel da
trajetória pessoal em sua literatura?
Moody - Esse sim é um papel principal. Um escritor
não tem como fugir de seu
próprio personagem. Estamos presentes em tudo o
que fazemos.
Folha - Em um livro feito pelo site Salon.com o sr. escreveu um ensaio sobre o pós-modernismo na literatura e
mencionou as auto-referências como um dos elementos
mais fortes do "gênero". O sr.
é pós-moderno?
Moody - Talvez seja um
pós-pós-moderno. Gosto de
muito do que se chama pós-modernista, mas vejo alguns
problemas também. Eles
não dão espaço, por exemplo, para as emoções.
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