São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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"Devíamos nos sentir como assassinos"

DO ENVIADO A EDIMBURGO

Rick Moody é um dos autores mais populares da boa ficção contemporânea dos EUA e um dos mais "pop". Não é ostensivo, mas o universo dos quadrinhos, hambúrgueres e rock'n'roll sempre marca presença nos livros deste nova-iorquino.
E já são muitos. O autor de romances como "Estado Jardim", o ótimo "América Púrpura" e "Tempestade de Gelo" (adaptado para filme de Ang Lee), todos editados no Brasil pela Rocco, está ampliando sua bibliografia.
Ele acaba de publicar "Black Veil" (Véu Negro), no qual trata de sua relação com o pai por meio de conto do romancista Nathaniel Hawthorne sobre um padre que, de um dia para o outro, decide cobrir para seu rosto com um pano preto.
Depois de falar sobre o livro, em debate com a jovem autora escocesa Gwendoline Riley, 22, Moody recebeu a Folha. (CEM)

Folha - Em seu livro mais recente, "O Véu Negro", o sr. diz que a verdadeira cor dos EUA não é a combinação de branco, vermelho e azul da bandeira, mas o preto. Por quê? Rick Moody - Por trás disso está minha convicção de que a história norte-americana é cheia de capítulos dos quais deveríamos nos envergonhar. O genocídio dos nativos, nossa política externa sempre totalitária, o isolacionismo de nossa cultura. Deveríamos nos sentir como assassinos, e assim usar preto, a cor do luto.

Folha - Por que fazer uma ficção carregada pelo pop americano, se o sr. tem essa visão crítica da cultura dos EUA?
Moody -
Não me considero um autor pop, acho que os críticos exageram. Mas me parece estranho também o escritor que não faz menção à sua cultura popular.

Folha - Em "Estado Jardim", o sr. descreve sua juventude, em "Demonology" o sr. trata da morte de uma irmã e agora escreve sobre sua relação com seu pai. Qual o papel da trajetória pessoal em sua literatura?
Moody -
Esse sim é um papel principal. Um escritor não tem como fugir de seu próprio personagem. Estamos presentes em tudo o que fazemos.

Folha - Em um livro feito pelo site Salon.com o sr. escreveu um ensaio sobre o pós-modernismo na literatura e mencionou as auto-referências como um dos elementos mais fortes do "gênero". O sr. é pós-moderno?
Moody -
Talvez seja um pós-pós-moderno. Gosto de muito do que se chama pós-modernista, mas vejo alguns problemas também. Eles não dão espaço, por exemplo, para as emoções.



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