ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Mais do que importante figura histórica, Napoleão Bonaparte (1769-1821) tornou-se principalmente personagem, alimentando mitos em torno de si mesmo.
"Napoleão", exposição que o Museu de Arte Brasileira da Faap inaugura hoje, em SP, corrobora levemente essa visão, mas, ao mesmo tempo, desnuda o imperador e coloca bem perto do público documentos oficiais e cartas pessoais, fardas e roupas íntimas, livros jurídicos e um curso de inglês, armas e louças.
Dicotomias não faltam para tentar delinear "vida e obra" do general baixinho que se coroou imperador, conquistou quase toda a Europa, foi derrotado em Waterloo pelas tropas do duque de Wellington e morreu solitário na ilha de Santa Helena. Com peças históricas, algumas mostradas pela primeira vez ao público, a mostra pretende "ser interessante do ponto de vista histórico, mas sem deixar de ser também um pouco espetacular", segundo Thierry Lentz, curador da exposição e diretor da Fundação Napoleão, em Paris.
Entre a reprodução de uma tenda militar, o enxoval do filho que Napoleão teve com sua segunda mulher, Maria Luísa, e as grandes aquisições da campanha do general no Egito, há um núcleo bem particular na mostra, dedicado a dom João 6º.
Contrafeito com o Bloqueio Continental e desobediente às demais ordens napoleônicas, o príncipe regente de Portugal e sua corte fogem para o Brasil. A carta enviada por Napoleão a dom João 6º ordenando o Bloqueio Continental é um dos tesouros da exposição.
A inexistência de uma grande mostra na França desde 1969, quando foram lembrados os 200 anos de nascimento de Napoleão Bonaparte, é um dos fatores que justificam o ineditismo de algumas das peças apresentadas -o outro é o fato de serem doações ou compras recentes.
"Assim como há a correção política, há também a correção histórica, muito em voga nas últimas décadas", alfineta Lentz. "Não é questão de admirá-lo, é apenas reconhecer a sua importância histórica", explica o curador, que prepara uma grande mostra em Paris para o próximo ano, bicentenário da coroação de Bonaparte.