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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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CRÍTICA

Seriados suscitam reações extremadas

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Dos temas já comentados nesta coluna, os seriados americanos estão entre os que parecem ter maior repercussão, só competindo com textos sobre notórios campeões de audiência, como Silvio Santos e Xuxa.
Na semana retrasada, quando a coluna fez uma comparação entre as comédias produzidas pela TV brasileira e as chamadas sitcoms ("Séries cômicas ironizam costumes"), as opiniões que chegaram por e-mail bateram um modesto recorde de três dezenas de mensagens.
Grosso modo, metade delas reagia ao elogio das sitcoms com uma certa veemência nacionalista, enquanto a outra metade fazia coro à coluna. Apesar de o texto afirmar a superioridade das sitcoms sobre as séries cômicas brasileiras, enfatizando a falta de produção sistemática no Brasil, as reações suscitadas pela comparação brasileiro x importado podem se estender para a teledramaturgia como um todo.

Nacionais e estrangeiros
Curioso que, a essa altura e num meio tão permeável a todo o tipo de influências como a TV, ainda viceje a tensão nacional x internacional. Mais, que seja o caso de atacar um para defender o outro, como se houvesse algum tipo de disputa em jogo.
Transfere-se para a TV, "a máquina de fazer doido", os mesmos termos de uma discussão já caduca -e, no fundo, sem solução- na cultura brasileira.
Defender o produto nacional parece boa idéia -mas, e se a gente pensar que toda, ou quase toda, a produção nacional na área de teledramaturgia, por exemplo, vem da mesma emissora, com os mesmos formatos há mais de 30 anos, será que estaremos mesmo fazendo a defesa daquilo que é realmente do povo brasileiro?
Existe a teledramaturgia nacional ou uma, e apenas uma, teledramaturgia nacional? Em outras palavras, a Rede Globo consegue dar conta de representar o Brasil?
As bem-sucedidas experiências de outras emissoras, como a recente "A Turma do Gueto", sugerem que há vários Brasis que não estão -e provavelmente nunca estarão- representados pela Globo.
Por outro lado, apesar de a amostra ser estatisticamente insignificante, o fato de colunas sobre seriados ensejarem reações dos leitores pode indicar que as séries vêm ganhando terreno entre o público de TV.
O fato de isso se dar entre a parcela mais elitizada do público, uma vez que são as TVs por assinatura que exibem esses programas, não deveria significar que não haja ali o que observar.
De alguma maneira, as séries norte-americanas vêm dando conta de falar de modos de vida, de representar grupos sociais e de amarrar referências culturais que têm escapado sistematicamente das melhores tentativas, da Globo ou não, mas que já fazem parte da cultura urbana das grandes cidades brasileiras.

E-mail: biabramo.tv@uol.com.br


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