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Comida
Fatia à francesa
Festival no Charlô destaca as terrines; chefs revelam segredos para preparar o prato
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo começou com uma receita de "patê de foie de volaille" (um tipo de terrine feita
com fígado de ave) copiada de
um velho livro da madame Radot, para quem Charlô Whately
trabalhava em Paris. De volta
ao Brasil, ele recuperou a anotação e resolveu colocá-la em
prática, adaptando alguns ingredientes. Da cozinha da fazenda de seus pais, onde a receita foi preparada pela primeira vez, o patê correu de boca a
boca, e as encomendas não tardaram, colocando Charlô de
vez no mundo da gastronomia.
Lá se vão 25 anos, e a efeméride será celebrada a partir da
próxima quinta com um festival. Até o dia 3 de setembro, o
Bistrô Charlô servirá não só a
iguaria que deu início à carreira
do banqueteiro e restaurateur
mas também outras terrines.
"Na fazenda dos meus pais,
todos cozinhavam. Fiz o patê e
acharam o máximo. Minha mãe
começou a vender para as amigas, e depois as pessoas passaram a ligar e pedir", conta Whately. "O patê, na verdade, é uma
terrine de fígado de galinha."
O termo francês terrine define tanto o recipiente fundo, geralmente de cerâmica, cujo formato pode ser retangular, oval
ou redondo, quanto as preparações contidas nesta vasilha. Em
geral, o prato tem como base
carnes, aves ou peixes, processados ou não, assados em banho-maria e servidos frios.
"A terrine foi criada para utilizar todos os pedaços de carne
que não se consegue colocar em
um prato. Se você tem uma paleta de cordeiro, por exemplo,
pode desossá-la e, com os retalhos, fazer uma terrine", diz
Christophe Besse, 40, chef do
All Seasons. "Onde minha mãe
mora [em Valais, na Suíça], as
famílias compram o vitelo inteiro. As partes nobres viram
bons pratos, e o resto se usa para fazer terrine ou lingüiça. Vejo muita gente fazer terrine
com filé mignon. Acho um absurdo, é uma carne cara. A idéia
é aproveitar os retalhos para fazer um prato sofisticado."
O chef do All Seasons, restaurante que oferece ao menos
cinco variedades diferentes de
terrines a cada dia, diz que o
grande segredo é a marinada.
"As carnes têm que marinar, no
mínimo, 48 horas. Se moê-las e
assá-las direto, não vão ter gosto de nada. Imersas em creme
de leite, conhaque e temperos,
tudo ficará saboroso."
O chef Erick Jacquin, 41, da
La Brasserie Erick Jacquin,
acrescenta outro item a sua
marinada: vinho do Porto. E
adverte: "A terrine deve ser feita devagar, sem pressa, cozida
lentamente em banho-maria".
Mas o processo lento de cozimento não vale para todas as
terrines, caso da de foie gras,
que faz parte do cardápio da La
Brasserie. "Essa eu prefiro cozinhar rápido e com temperatura bem alta", diz.
Diferentemente de outras
terrines, cujas carnes são transformadas em patê e só então
enformadas, a de foie gras costuma ser feita com o fígado in
natura. "O foie gras é enformado inteiro e bem comprimido.
Quando sai do forno, é preciso
prensar a terrine novamente
para extrair a gordura, que depois pode ser jogada sobre o
prato resfriado para criar uma
camada protetora", diz o chef
Luiz Emanoel, 30, do Allez,
Allez!, onde ela é servida com
geléia de tomate verde.
O forno não é o destino de todas as terrines. As de legumes,
queijos ou frutas podem ser
simplesmente sobrepostas em
camadas. É o caso da terrine de
cream cheese, cogumelos, macadâmia e damasco servida no
Praça São Lourenço.
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