São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Mostra traz recorte "alemão" do fundamental grupo Fluxus

Com abertura hoje no Instituto Tomie Ohtake, exposição aglutina obras de expoentes do movimento como Joseph Beuys, Dieter Roth e Nam June Paik

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não deixa de parecer contraditório que, simultaneamente à mostra "Pincelada", o Instituto Tomie Ohtake receba também "Fluxus - Uma Longa História com Muitos Nós", que é aberta hoje para convidados e amanhã para o público. Enquanto "Pincelada" exalta a pintura como método, nos anos 50 e 60, "Fluxus", a partir do movimento de mesmo nome, traz um dos momentos mais radicais na história da arte, que tinha como princípio se contrapor a tudo aquilo que a pintura representava: um objeto com fim em si mesmo e com forte apelo comercial. A questão principal é que, vistas agora, as então transgressoras peças do Fluxus, quando expostas em vitrines, tornaram-se tão cultuadas quanto as pinturas. Entretanto, esse inevitável fenômeno de coisificação, que congela algo criado para estar em processo, não tira, obviamente, o mérito da mostra -a mais significativa sobre o grupo já vista no país, mais de 20 anos após o movimento ter tido uma sala especial na 17ª Bienal de São Paulo, em 1983. "Fluxus - Uma História com Muitos Nós" trata das passagens alemãs do grupo, que incluem figuras chaves na história da arte como Joseph Beuys (1921-1986), Dieter Roth (1930-1998), Nam June Paik (1932-2006) e John Cage (1912-1992), entre outros, a partir da coleção do galerista e curador alemão René Block. O galerista vendeu parte de seu acervo para o Instituto de Relações Exteriores da Alemanha (IFA), que há 12 anos promove exposições com esse recorte pelo mundo.

Vida e arte
O termo fluxus foi criado pelo artista lituano George Maciunas (1931-1978), em 1961, para deixar clara a característica mutante do grupo e a valorização do processo em detrimento da obra final. Entre seus principais legados, o Fluxus, que resgatou princípios do movimento dadaísta, do início do século 20, buscava reunir vida e arte. Assim, para Maciunas, uma das tarefas do artista era a de "demonstrar que qualquer coisa pode ser arte e que qualquer pessoa pode fazê-la". Já em 1962, com o compositor John Cage à frente, vários integrantes do Fluxus apresentam-se na Alemanha, criando laços no país, especialmente com Beuys, tido como o mais importante artista alemão na segunda metade do século 20. O que se vê na mostra é um apanhando abrangente de trabalhos que circularam desde então, como "Eu Acredito em Reencarnação", criado por Nam June Paik em 1993. Na obra, um crucifixo formado por aparelhos de televisão é circundado por fotos de integrantes do Fluxus impressas em tecido. "O Fluxus é precursor da arte conceitual, do internacionalismo da produção, da visão da arte como processo. É impossível compreender a arte contemporânea sem observar essa produção", diz à Folha o curador Agnaldo Farias.


FLUXUS - UMA LONGA HISTÓRIA COM MUITOS NÓS
Quando: abertura, hoje, às 20h (convidados); de ter. a dom., das 11h às 20h; até 8/10
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés Pinheiros, SP, tel. 0/xx/11/2245-1900)
Quanto: entrada franca



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