São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Brasil é destaque no Festival de Curtas

Filmes com Selton Mello e título de Walter Salles estão entre os melhores da programação do evento em SP

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No 18º Festival Internacional de Curtas de São Paulo a produção brasileira se destaca, primeiro, pela quantidade: são 153 os títulos programados.
Quanto à qualidade, é possível garimpar bons filmes -e até excelentes- sobretudo nos segmentos de ficção e animação. Para quem tiver que escolher só um programa, a melhor opção é a sessão Panorama Brasil 1 (veja destaques no quadro ao lado), que concentra o maior número de preciosidades.
Uma delas é "A 8.944 km de Cannes", de Walter Salles. Diante do velho cineminha de um vilarejo de Pernambuco, a dupla Caju e Castanha canta uma embolada marota sobre o festival de Cannes e o cinema em geral. Em apenas três minutos, praticamente num único plano, o cinema do mundo é canibalizado pela cultura popular nordestina.
O mesmo programa inclui o surpreendente "Um Ramo", de Juliana Rojas e Marco Dutra, que narra de maneira enxuta, quase seca, um evento fantástico: pequenas folhas começam a brotar da pele de uma mulher, indicando sua gradual transformação numa árvore.
Se a referência inevitável, em "Um Ramo", é o cinema fisiológico de Cronenberg, em "Tarantino's Mind", de 300 ml (na verdade, a dupla Bernardo Dutra e Manitou Felipe da Silva), é o universo pop e "pulp" de Quentin Tarantino que é passado em revista numa conversa entre amigos, interpretados por Selton Melo e Seu Jorge.
Ainda no Panorama Brasil 1, destaca-se a delicada animação "Ícarus", de Victor-Hugo Borges, sobre um menino que perde o pai, um piloto, e passa a voar na imaginação.
Mas a animação mais extraordinária está no Panorama Brasil 3: é "Vida Maria", do cearense Marcio Ramos. Num exuberante desenho em 3D que mimetiza um longo plano-seqüência, mais do que contar a história de uma mulher do sertão, da infância à velhice, o filme delineia o ciclo social perverso que obriga as meninas a trocarem muito cedo o caderno pela enxada.
Economia, sutileza e discrição marcam outro relato de infância triste, "Tori", de Andrea Midori Simão e Quelany Vicente, dentro do Panorama Brasil 4. Uma nissei de oito anos busca o irmão desaparecido para lhe dar o ovinho que seu pássaro botou. Lembra o cinema essencial de Yasujiro Ozu.
Entre os documentários, o mais obrigatório é "Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba", de Ricardo Dias e Thomaz Farkas. Dentro do Programa Especial Petrobras 1, é um registro contagiante do show do grupo de Pixinguinha no Ibirapuera em 1954.


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