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Brasil é destaque no Festival de Curtas
Filmes com Selton Mello e título de Walter Salles estão entre os melhores da programação do evento em SP
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No 18º Festival Internacional de Curtas de São Paulo a
produção brasileira se destaca,
primeiro, pela quantidade: são
153 os títulos programados.
Quanto à qualidade, é possível garimpar bons filmes -e até
excelentes- sobretudo nos
segmentos de ficção e animação. Para quem tiver que escolher só um programa, a melhor
opção é a sessão Panorama Brasil 1 (veja destaques no quadro
ao lado), que concentra o maior
número de preciosidades.
Uma delas é "A 8.944 km de
Cannes", de Walter Salles.
Diante do velho cineminha de
um vilarejo de Pernambuco, a
dupla Caju e Castanha canta
uma embolada marota sobre o
festival de Cannes e o cinema
em geral. Em apenas três minutos, praticamente num único
plano, o cinema do mundo é canibalizado pela cultura popular
nordestina.
O mesmo programa inclui o
surpreendente "Um Ramo", de
Juliana Rojas e Marco Dutra,
que narra de maneira enxuta,
quase seca, um evento fantástico: pequenas folhas começam a
brotar da pele de uma mulher,
indicando sua gradual transformação numa árvore.
Se a referência inevitável, em
"Um Ramo", é o cinema fisiológico de Cronenberg, em "Tarantino's Mind", de 300 ml (na
verdade, a dupla Bernardo Dutra e Manitou Felipe da Silva), é
o universo pop e "pulp" de
Quentin Tarantino que é passado em revista numa conversa
entre amigos, interpretados
por Selton Melo e Seu Jorge.
Ainda no Panorama Brasil 1,
destaca-se a delicada animação
"Ícarus", de Victor-Hugo Borges, sobre um menino que perde o pai, um piloto, e passa a
voar na imaginação.
Mas a animação mais extraordinária está no Panorama
Brasil 3: é "Vida Maria", do cearense Marcio Ramos. Num
exuberante desenho em 3D que
mimetiza um longo plano-seqüência, mais do que contar a
história de uma mulher do sertão, da infância à velhice, o filme delineia o ciclo social perverso que obriga as meninas a
trocarem muito cedo o caderno
pela enxada.
Economia, sutileza e discrição marcam outro relato de infância triste, "Tori", de Andrea
Midori Simão e Quelany Vicente, dentro do Panorama Brasil
4. Uma nissei de oito anos busca o irmão desaparecido para
lhe dar o ovinho que seu pássaro botou. Lembra o cinema essencial de Yasujiro Ozu.
Entre os documentários, o
mais obrigatório é "Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba", de Ricardo Dias e Thomaz
Farkas. Dentro do Programa
Especial Petrobras 1, é um registro contagiante do show do
grupo de Pixinguinha no Ibirapuera em 1954.
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