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Comentário
Coro e lágrimas acompanham "olhos tristes"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Roberto Carlos vivia
o apogeu da Jovem Guarda, lá
pelos anos 60, ele tinha um
monte de amigos, incluindo os
dois mais bacanas, Erasmo e
Wanderléa, vendia discos sem
os quais não se conseguia respirar, era rico, usava anel brucutu
e cintos com fivelas imensas, as
coisas mais legais que alguém
podia ter. Tudo dava certo para
ele e, mesmo assim, a minha
mãe sempre dizia que ele tinha
"olhos tristes". Muitas mães diziam o mesmo.
Por isso, quando ele cantou
"Outra Vez", uma música triste
que fala daquele tipo de amor
que a gente queria muito que tivesse dado certo, mas que -puxa vida- não deu, o ginásio do
Ibirapuera lotado cantou junto,
forte, como se exorcizasse todas as mágoas dos amores "errados". "Das lembranças que eu
trago na vida você é a saudade
que eu gosto de ter. Só assim,
sinto você bem perto de mim
outra vez."
Ao meu lado, nessa hora, eu
não vi a saudade que eu gosto
de ter, mas uma mulher elegante, na casa dos 60, o rosto inundado de lágrimas que ela não
vencia enxugar. Findo o coro,
Roberto emendou, como se improvisasse: "É o que digo sempre. Ninguém está sozinho numa situação como essa". A mulher fez que sim com a cabeça.
Nada era improvisado. O
mesmo texto já apareceu em
outros momentos da turnê
"Roberto Carlos - 50 Anos de
Música", que até agora percorreu 13 cidades e foi vista por
mais de 300 mil pessoas. Mas
não importava.
"No romance da vida de cada
um dos fãs, tem o capítulo jovem, esperança, tesão, paixão,
amor, decepção, perdas e danos, fé, como a vida e as canções
do Roberto", explicou o empresário Fernando Rangel de
Abreu, 65, ao lado da mulher,
Ana Cláudia Soares, 52.
O público participou de forma diferente em cada um desses capítulos. No bloco "sensual" do show (em que brilharam hits como "Os Botões da
Blusa", "Proposta" e Cavalgada"), um casal só mexia os lábios acompanhando as canções que sabia de cor.
Tímido, o homem fazia massagem com álcool em gel aroma de cânfora (herança da gripe suína) nas mãos dela, que
olhava fixamente para Roberto. Os dois estão tentando uma
reconciliação, depois de meses
de uma separação doída. Escolheram o show para marcar o
novo passo. "Eu te proponho...", ele cantou, em coro
com Roberto, ao ouvido da
mulher. Não se sabe se deu certo. O show acabou perto da
meia-noite.
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