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RELÂMPAGOS
Treinador de
almas
JOÃO GILBERTO NOLL
Dois sonâmbulos crispados frente a frente sob a luz
que pisca. Esboçam um
duelo arrastado, sem desfecho. Chego ali aos seus ouvidos e reverbero o trêmulo
estalo do osso que me mantém a guarda. A alguns passos, o porto se esvai. Só eu
percebo que o mar se adensa em volta. Os dois inermes diante das cicatrizes
não mais que adivinhadas.
Disfarço o chiado de algum
empedernido inverno no
meu peito. Sou duro, exemplar. Antes que o barco
também se dissolva, a pomba prateada do Divino desprega-se de um golpe da
bandeira da proa e entra esfomeada pelo roxo do raio.
Antes que minha mão se
desmanche, faço o sinal da
regra entre os dois gladiadores, já esquecidos da luta.
Agora, um segundo raio esclarece a minha posição ali,
sim, de treinador de almas.
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