São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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RELÂMPAGOS
Treinador de almas

JOÃO GILBERTO NOLL

Dois sonâmbulos crispados frente a frente sob a luz que pisca. Esboçam um duelo arrastado, sem desfecho. Chego ali aos seus ouvidos e reverbero o trêmulo estalo do osso que me mantém a guarda. A alguns passos, o porto se esvai. Só eu percebo que o mar se adensa em volta. Os dois inermes diante das cicatrizes não mais que adivinhadas. Disfarço o chiado de algum empedernido inverno no meu peito. Sou duro, exemplar. Antes que o barco também se dissolva, a pomba prateada do Divino desprega-se de um golpe da bandeira da proa e entra esfomeada pelo roxo do raio. Antes que minha mão se desmanche, faço o sinal da regra entre os dois gladiadores, já esquecidos da luta. Agora, um segundo raio esclarece a minha posição ali, sim, de treinador de almas.




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