São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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CRÍTICA
CD se apóia em arranjos modernos e letristas afiados

DA REPORTAGEM LOCAL

Sendo tradicional , "Janelas" é, ainda assim, um CD de quebra de tradição. Nitidamente apaixonado pelos velhos cancionistas brasileiros, desde Luiz Bandeira (de que ele reinterpreta "Fulô da Maravilha", que Luiz Gonzaga costumava cantar) até Caetano e Djavan, Fred Martins não os livra de querer modernizá- los.
Para buscar tal objetivo, tem de tentar interromper a já comprida prática do pop contemporâneo, de, dos anos 80 para cá, mandar a poesia plantar batatas.
Mais músico que letrista, Fred se serve de um elenco preciosista -e pouco conhecido- de poetas que lidam com o pop, como Alexandre Lemos, Marcelo Diniz, Suely Mesquita, Manoel Gomes, Roberto Bozzetti.
A variedade de parceiros, paradoxalmente, conduz o CD a uma unidade de competência poética e narrativa, algo que nossas bandas pop-rock têm sistematicamente considerado desprezível, a não ser quando vão ficando um pouco mais velhas.
Alia-se a isso um tratamento moderno de pop e MPB, como na faixa "Domingo e Feriado" (parceria com Suely Mesquita) ou na belíssima "Não Só pela Chuva" (com Marcelo Diniz), redonda de órgão Hammond, violinos, baixo e blues.
Um parênteses: talvez a sofisticação de tratamento seja competência do produtor Rafael Ramos, mas o nepotismo bombril de que o garoto anda sendo investido (por seus próprios pais) continua a pegar mal, a soar mal explicado. E ninguém quer falar diretamente sobre isso.
De volta a Fred, sua voz pequena conduz faixas calmas e delicadas, mas quase nunca conformadas. Em "969" (com Alexandre Lemos), por exemplo, Fred concede provocar a MPB de seus amores, invertendo com acento realista versos de "O Morro Não Tem Vez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Assim, "se derem vez ao morro/ todo o morro vai cantar" se transforma em "se derem voz ao morro/ continua tudo igual", numa afronta à distância cordial que os ricos dos anos 60 nutriam pelos morros cariocas. É outro tempo.
Enfim, aqui, em "Janelas", há melodia, poesia, atitude, convivência sabida entre balada ("Uma Simples Canção"), forró ("Fulô da Maravilha") e reggae bobinho ("Flores", já gravada por Zélia Duncan, ou "Quero Mais"), pegadas "eletroacústicas" em dosagem adulta. Depois dizem que é a música brasileira que está em crise... (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Janelas
   
Artista: Fred Martins Lançamento: DeckDisc Quanto: R$ 25, em média

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