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CRÍTICA
CD se apóia em arranjos modernos e letristas afiados
DA REPORTAGEM LOCAL
Sendo tradicional , "Janelas" é, ainda assim, um CD de
quebra de tradição. Nitidamente
apaixonado pelos velhos cancionistas brasileiros, desde Luiz Bandeira (de que ele reinterpreta "Fulô da Maravilha", que Luiz Gonzaga costumava cantar) até Caetano e Djavan, Fred Martins não os
livra de querer modernizá- los.
Para buscar tal objetivo, tem de
tentar interromper a já comprida
prática do pop contemporâneo,
de, dos anos 80 para cá, mandar a
poesia plantar batatas.
Mais músico que letrista, Fred
se serve de um elenco preciosista
-e pouco conhecido- de poetas que lidam com o pop, como
Alexandre Lemos, Marcelo Diniz,
Suely Mesquita, Manoel Gomes,
Roberto Bozzetti.
A variedade de parceiros, paradoxalmente, conduz o CD a uma
unidade de competência poética e
narrativa, algo que nossas bandas
pop-rock têm sistematicamente
considerado desprezível, a não ser
quando vão ficando um pouco
mais velhas.
Alia-se a isso um tratamento
moderno de pop e MPB, como na
faixa "Domingo e Feriado" (parceria com Suely Mesquita) ou na
belíssima "Não Só pela Chuva"
(com Marcelo Diniz), redonda de
órgão Hammond, violinos, baixo
e blues.
Um parênteses: talvez a sofisticação de tratamento seja competência do produtor Rafael Ramos,
mas o nepotismo bombril de que
o garoto anda sendo investido
(por seus próprios pais) continua
a pegar mal, a soar mal explicado.
E ninguém quer falar diretamente
sobre isso.
De volta a Fred, sua voz pequena conduz faixas calmas e delicadas, mas quase nunca conformadas. Em "969" (com Alexandre
Lemos), por exemplo, Fred concede provocar a MPB de seus
amores, invertendo com acento
realista versos de "O Morro Não
Tem Vez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Assim, "se derem vez ao morro/
todo o morro vai cantar" se transforma em "se derem voz ao morro/ continua tudo igual", numa
afronta à distância cordial que os
ricos dos anos 60 nutriam pelos
morros cariocas. É outro tempo.
Enfim, aqui, em "Janelas", há
melodia, poesia, atitude, convivência sabida entre balada ("Uma
Simples Canção"), forró ("Fulô da
Maravilha") e reggae bobinho
("Flores", já gravada por Zélia
Duncan, ou "Quero Mais"), pegadas "eletroacústicas" em dosagem adulta. Depois dizem que é a
música brasileira que está em crise...
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Janelas
Artista: Fred Martins
Lançamento: DeckDisc
Quanto: R$ 25, em média
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